Brasil 247 - Em longa entrevista à Folha, prefeito de São Paulo
critica a politização do escândalo da Máfia do o ISS, enaltece criação da
Controladoria e diz que não há paralelo na história da cidade o número de
pessoas que foram presas; no caso do IPTU, critica as contradições do PSDB, que
em 2009 impôs um aumento de até 45%; e se espanta com a guerra de versões:
“Todo dia, aqui acontece um episódio importante na cidade e a versão sobre ele
é disputada palmo a palmo”.
O prefeito de São Paulo, Fernando
Haddad, critica a politização do caso da chamada Máfia do ISS. Segundo ele, seu
governo tem agido sistematicamente ara combater a corrupção a partir da criação
da controladoria, órgão inédito na administração da capital paulista. “Quiseram
politizar algo que, na minha opinião, se podia ser politizado, seria no sentido
de enaltecer a decisão da prefeitura”, disse, em longa entrevista ao jornal
Folha de São Paulo. O prefeito garante que ninguém combateu a corrupção como
ele no primeiro ano de governo.
Na entrevista (abaixo os principais trechos e aqui a
íntegra), Haddad fala da vida pessoal, dos apelidos maldosos e dificuldades
enfrentadas. “Foi um primeiro ano difícil, como todos os primeiros anos de uma
administração. O presidente Lula, no seu primeiro ano de governo, perdeu muitos
correligionários. Muita gente deixou o PT em 2003. Depois, em 2005 de novo. O
presidente Lula foi reeleito e fez a sua sucessora”, analisa.
Haddad também
se queixa na entrevista da disputa “palmo a palmo” pelas versões sobre todos os
episódios da vida paulistana. “Vou pegar um episódio recente: o Memorial da
América Latina, um equipamento do Estado que pegou fogo. O equipamento e o
Corpo de Bombeiros são do Estado, e a prefeitura que é chamada a prestar
contas. Tudo aqui em São Paulo é muito palmo a palmo.”
E criticou o
PSDB por questionar o reajuste do IPTU: “Uma lei aprovada em 2009 pelo PSDB era
muito mais alta do que essa. E o PSDB entrou com uma ação de inconstitucionalidade
contra essa lei. O PSDB é um partido contraditório. No caso deles, o IPTU
chegava a 45%.”
Os principais trechos
Isolamento
Lembro que
quando tinha 3% das intenções de voto, as matérias do período eram desoladoras.
[Risos] Se toma aquilo como imutável, se a dinâmica política não for algo que
você incorpora no teu dia a dia, você realmente joga a toalha. Mas se entende a
política... E o sabor dela é esse, o fato de que ela muda, o fato de que há uma
coreografia, que tem a ver com tempo do mandato, da campanha, depende.
Política
O sabor da
política é a dinâmica, não é a estática. Você toma uma medida dura, necessária,
impopular, e tem de saber as consequências. Agora, se você me perguntar se me
arrependi de alguma que tomei neste ano, não me arrependi de nenhuma. Todas
eram necessárias para equacionar o problema de São Paulo.
Popularidade
Acho que não
dá para falar em recuperação. Enfim, os governos de Estado têm uma situação
mais confortável do ponto de vista político. A população tem muita dificuldade
em identificar quais são as responsabilidades do governador. Prefeito paga um
preço muito alto, mas é devido, por estar muito próximo do cidadão.
Vida pessoal
Procurei
alterar pouco a minha rotina. Estou mais caseiro? Estou. Mas saio aos fins de
semana a pé pelo bairro. Passeio com o meu cachorro normalmente, vou ao parque,
à [avenida] Paulista, ao shopping, ao cinema. Procuro ter uma vida um tanto
quanto possível normal. Funciona. As pessoas respeitam. Vou aos restaurantes
que frequentava, vou comer um sanduíche. Procuro continuar fazendo as coisas
que eu fazia.
Manifestantes
Quando se
mistura o público e o privado é muito ruim, né? Temos aqui uma praça pública
[ao lado da prefeitura], onde as pessoas podem se manifestar livremente. Tem
locais próprios para isso. A partir do momento que começa a afetar não a vida
do governante, mas a de vizinhos, familiares, aí é outra coisa que está
acontecendo, não é política. Fui militante estudantil, fiz inúmeros protestos e
nunca nem me ocorreu achar o endereço de alguém, porque é uma coisa que estava
totalmente delimitada. Estávamos vivendo debaixo de uma ditadura. Ali, até
haveria justificativa porque não havia democracia.
Animosidade no PT
Disputa interna no PT sempre vai haver. Existiu quando
fui ministro da Educação, quando fui candidato a prefeito, existirá enquanto
durar o meu mandato. Mas isso é uma parte. Existe essa disputa interna. Outra
coisa é a militância do PT, que tem outro tipo de comportamento. A militância é
a que me deu a vitória, é a que foi para a rua defender um programa de governo
que, na minha opinião, transforma a cidade. Agora, foi um primeiro ano difícil, como todos os primeiros anos
de uma administração. O
presidente Lula, no seu primeiro ano de governo, perdeu muitos
correligionários. Muita gente deixou o PT em 2003. Depois, em 2005 de novo. O
presidente Lula foi reeleito e fez a sua sucessora.
Aumento
do IPTU
Uma lei
aprovada em 2009 pelo PSDB era muito mais alta do que essa. E o PSDB entrou com
uma ação de inconstitucionalidade contra essa lei. O PSDB é um partido
contraditório. No caso deles, o IPTU chegava a 45%. Prefiro ver a questão como
uma questão de Estado. O IPTU é o que mantém a cidade. Ressalto que 50% do IPTU
vão para a saúde e para educação e 16% vão para o pagamento de dívidas com a
União e com precatórios. Dois terços do IPTU têm destinação certa. Então, esse
papo de dizer que por causa da tarifa...
Pressão
São Paulo é
uma panela de pressão. Todo dia, aqui acontece um episódio importante na cidade
e a versão sobre ele é disputada palmo a palmo. É incrível, a cidade é
incrível. Vou pegar um episódio recente: o Memorial da América Latina, um
equipamento do Estado que pegou fogo. O equipamento e o Corpo de Bombeiros são
do Estado, e a prefeitura que é chamada a prestar contas. Tudo aqui em São
Paulo é muito palmo a palmo.
Corrupção
Ninguém
combateu a corrupção como nós no primeiro ano de governo. Não tem paralelo na
história de São Paulo o número de pessoas que foram presas. Foram nove neste
ano. Cinco até junho e quatro dessa chamada máfia do ISS. Por quê? Porque criei
uma controladoria, órgão inédito na história de São Paulo. Aí, de repente, a
administração tem de prestar esclarecimentos sobre uma corrupção que é da
máquina pública, que envolve poucos servidores que enriqueceram brutalmente.
Quiseram politizar algo que, na minha opinião, se podia ser politizado, seria no
sentido de enaltecer a decisão da prefeitura. Isso ficou subordinado a uma
disputa política.
Máfia dos fiscais
Veja bem, os
valores envolvidos eram tão elevados... E a gente lida com muita pobreza na
cidade. Quando você tem a notícia de que as pessoas que deveriam estar cuidando
do Tesouro municipal, da arrecadação, estão se locupletando dessa maneira e se
lembra do dia a dia, que é o contato com as pessoas que estão com dificuldade
de atendimento na saúde, de creche, transporte... É um choque muito grande.
Você fica realmente consternado.
“Soberbo”
É fácil
apelidar qualquer pessoa. Já fui apelidado de mil coisas, não vejo
dificuldades. Tenho um plano de governo, que foi apresentado para a sociedade.
Querer cumprir esse plano de governo me parece razoável. Às vezes, as pessoas
confundem determinação com soberba. Confundem compromisso com teimosia. É fácil
mudar o sinal das coisas. Agora, devo ter mil defeitos. Quem não os têm? Devo
ter muito para aprender na condução da cidade.
"Malddad"
Essas rimas,
que são pobres espiritualmente, não merecem comentários.
Lado bom
A política tem
a estatura das artes, da ciência, porque ela é um elemento de transformação da
sociedade. A política pode muito. E algumas coisas só ela pode. Nada mais pode.
A política é uma atividade que tem de ter a aura da nobreza. Não estamos
vivendo um momento em que isso prevalece na cabeça das pessoas. O que é ruim
não para a política, mas para a democracia.
Fonte:
Brasil
247.