O atual momento do Brasil colocou
novamente em evidência a efervescência do ativismo, em nome de diversas
bandeiras. Muitas dos que integram esses movimentos estão dispostos a tudo -
tudo mesmo - por suas causas.
Na
primeira desocupação do Parque do Cocó, em agosto, Gustavo Mineiro subiu no
alto dos galhos, entre folhagens, para impedir a derrubada das árvores. Dias
depois, com o acampamento já refeito e sob ameaça de nova investida policial,
ele se acorrentou às árvores, disposto a ser arrancado de lá junto com elas se
fosse preciso. Daquela vez não foi.
Mais
alguns dias se passaram e ele, junto com outros ativistas, iniciou uma greve de
fome em protesto. Na segunda e última desocupação, em outubro, não teve jeito.
Iniciado o confronto e vendo que já não havia mais nada a fazer, Mineiro
resolveu (pasmem) correr nu pela rua e enfrentar os policiais.
“Eu
já tinha feito tudo o que é cabível a um ser humano, dentro do que as pessoas
acham válido. Naquela hora não pensei. Foi mais instinto do que razão. (...)
Era como se, fisicamente, eu não estivesse ali”, narra Mineiro, que até hoje
diz não se sentir à vontade para falar do episódio. Segundo ele, foi um misto
de “desespero, revolta e vergonha”. Estudante de Cinema, ele chegou a Fortaleza
há apenas dois anos, vindo de São Paulo, onde desde a adolescência já militava em
várias causas.
Atitudes
como essas são comuns a ativistas de diferentes movimentos e bandeiras, que
estão dispostos às mais variadas e impulsivas ações em nome das causas que
defendem. Para Mineiro e para outros militantes ouvidos por O POVO, o ativismo
não deve ter limites. A percepção entre eles é de que o ideal que representam é
algo maior, que deve ser levado adiante mesmo que isso imponha sacrifícios e
implique riscos constantes.
“O
ativismo em si não mede consequências. Mas há diferentes estágios. (...) A
gente sabe do risco que corre a partir do momento em que entra no ativismo”,
diz a administradora Jane Santos, de São Paulo. Ela é uma das ativistas que se
acorrentou aos portões do Instituto Royal, em São Roque, em protesto contra a
utilização de cães como cobaias em pesquisas científicas. Dias depois, um grupo
de ativistas entrou no instituto, de madrugada, e retirou do local 178 cães da
raça Beagle.
Jane
é adepta do chamado “ativismo de impacto”, que realiza ações com potencial de
grande repercussão para chamar a atenção da sociedade. Ela diz que o ativista
em geral não está predisposto a correr perigo e sim consciente de que isso pode
ocorrer. “Ativista bom é ativista vivo e livre e não morto ou preso”.
Foi
em uma dessas ações de impacto que a ativista brasileira Ana Paula Maciel foi
presa na Rússia, com outras 29 pessoas, após tentar invadir uma plataforma para
protestar contra a extração de petróleo no Ártico. Os ativistas continuam
presos, apesar da grande mobilização internacional. (Marcos Robério)
Por quê
ENTENDA A NOTÍCIA
Enquanto
alguns ativistas defendem que vale tudo em prol de uma causa, juristas e mesmo
outros ativistas argumentam que é preciso haver limites no direito de
manifestação, sob pena de pôr em risco a Constituição.
Fonte: O Povo.