Se são muitos os problemas
do Estado, avanços das últimas décadas dão nova esperança a moradores. Até dona
Aldenice, analfabeta até os 52 anos, voltou a estudar.
A
casa onde mora a família de Aldenice Alves, 53, em Itatira, revela dois
“Brasis” – um de atraso, outro de desenvolvimento – que coabitam mesmo tempo e
espaço. Se nos últimos anos a família viu a chegada da eletricidade, da renda e
da educação na região onde vive, ainda enfrenta dificuldades de morar em
localidade pobre. Sem saneamento básico, mas com bens de consumo, a residência
de dois cômodos reflete bem situação do Ceará como um todo: Estado que avançou,
mas que ainda tem longo caminho pela frente.
Segundo a pesquisa “Atlas do Desenvolvimento Humano
no Brasil 2013”, divulgada na última semana, o Índice de Desenvolvimento Humano
dos Municípios (IDHM) do Ceará cresceu 68,4% nos últimos vinte anos. O número
coloca o Estado como o segundo IDHM do Nordeste, atrás do Rio Grande do Norte.
Mesmo com o avanço, índice ainda é considerado médio, com cearenses amargando o
11º pior valor entre estados do Brasil.
A contradição entre atraso e desenvolvimento
encontra paralelo sobre o teto de Aldenice. Sem água encanada nem saneamento
básico, a família se mantém com uma pequena caixa d’água – quase sempre
descoberta – e não recebe coleta de lixo. Dessa forma, necessidades são feitas
em matagais próximos e boa parte do lixo é espalhado na frente da casa. “O
problema é a água, que é suja, barrenta”, diz.
Do outro lado da balança, dona Aldenice conta que,
nos últimos anos, todos os seus filhos e netos passaram a estudar – com direito
a transporte, livros didáticos, fardamento e merenda de qualidade. Ela própria,
que foi analfabeta até os 52 anos, voltou a estudar em agosto do ano passado.
“Já aprendi a assinar o meu nome e a escrever várias frases”, diz,
entusiasmada.
Ela conta ainda que, “tirando da própria boca”,
teve renda suficiente para comprar televisor – “um antigo sonho” – e aparelho
celular. A coexistência entre melhorias acentuadas e atrasos se reproduz por
várias casas da zona rural de Itatira, a 216,8km de Fortaleza. Apesar de ter
figurado entre os dez municípios que mais melhoraram no IDHM e na Educação nos
últimos dez anos, a cidade ainda possui o 4º menor índice do Estado.
Marco Aurélio Costa, coordenador do Atlas 2013 e
técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), destaca melhoria
geral de índices do Nordeste, mas ressalta que a eliminação das desigualdades é
processo que não será feito da “noite para o dia”. “Avanços na dimensão da
educação deverão, ao longo das próximas décadas, contribuir para a redução
dessas desigualdades”, avalia.
NÚMEROS
68,4
Foi o crescimento percentual do
IDHM do Ceará nas últimas décadas. É o segundo maior índice do Nordeste
11º
É a posição do Estado entre os
piores IDHM do Brasil. Apesar das melhorias, Estado ainda é considerado médio
Fonte: O Povo.