Telegramas
revelam intenções de veto e ações dos EUA contra o desenvolvimento tecnológico
brasileiro com interesses de diversos agentes que ocupam ou ocuparam o poder em
ambos os países.
O
Acordo de Salvaguardas Brasil-EUA (TSA) foi firmado em 2000 por Fernando
Henrique Cardoso, mas foi rejeitado pelo Senado Brasileiro após a chegada de
Lula ao Planalto e a guinada registrada na política externa brasileira, a mesma
que muito contribuiu para enterrar a ALCA. Na sua rejeição o parlamento
brasileiro considerou que seus termos constituíam uma “afronta à Soberania
Nacional”. Pelo documento, o Brasil cederia áreas de Alcântara para uso
exclusivo dos EUA sem permitir nenhum acesso de brasileiros. Além da ocupação
da área e da proibição de qualquer engenheiro ou técnico brasileiro nas áreas
de lançamento, o tratado previa inspeções americanas à base sem aviso prévio.
Os telegramas diplomáticos
divulgados pelo Wikileaks falam do veto norte-americano ao desenvolvimento de
tecnologia brasileira para foguetes, bem como indicam a cândida esperança
mantida ainda pela Casa Branca, de que o TSA seja, finalmente, implementado
como pretendia o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas, não apenas a
Casa Branca e o antigo mandatário esforçaram-se pela grave limitação do
Programa Espacial Brasileiro, pois neste esforço algumas ONGs, normalmente
financiadas por programas internacionais dirigidos por mentalidade
colonizadora, atuaram para travar o indispensável salto tecnológico brasileiro
para entrar no seleto e fechadíssimo clube dos países com capacidade para a exploração
econômica do espaço sideral e para o lançamento de satélites. Junte-se a eles,
a mídia nacional que não destacou a gravíssima confissão de sabotagem
norte-americana contra o Brasil, provavelmente porque tal atitude contraria sua
linha editorial historicamente refratária aos esforços nacionais para a
conquista de independência tecnológica, em qualquer área que seja.
Especialmente naquelas em que mais desagradam as metrópoles.
Bomba! Bomba!
O
outro telegrama da diplomacia norte-americana divulgado pelo Wikileaks e que
também revela intenções de veto e ações contra o desenvolvimento tecnológico
brasileiro veio a tona de forma torta pela Revista Veja, e fala da preocupação gringa sobre o trabalho de
um físico brasileiro, o cearense Dalton
Girão Barroso, do Instituto Militar de Engenharia, do Exército.
Giráo publicou um livro com simulações por ele mesmo desenvolvidas, que teriam
decifrado os mecanismos da mais potente bomba nuclear dos EUA, a W87, cuja
tecnologia é guardada a 7 chaves.
A primeira suspeita revelada nos
telegramas diplomáticos era de espionagem. E também, face à precisão dos
cálculos de Girão, de que haveria no Brasil um programa nuclear secreto,
contrariando, segundo a ótica dos EUA, endossada pela revista, o Tratado de Não
Proliferação de Armas Nucleares, firmado pelo Brasil em 1998, Tal como o Acordo
de Salvaguardas Brasil-EUA, sobre o uso da Base de Alcântara, o TNP foi firmado
por Fernando Henrique. Baseado apenas em uma imperial desconfiança de que as
fórmulas usadas pelo cientista brasileiro poderiam ser utilizadas por
terroristas , os EUA, pressionaram a Agência Internacional de Energia Atômica
(AIEA) que exigiu explicações do governo Brasil , chegando mesmo a propor o
recolhimento-censura do livro “A física dos explosivos nucleares”. Exigência
considerada pelas autoridades militares brasileiras como “intromissão indevida
da AIEA em atividades acadêmicas de uma instituição subordinada ao Exército
Brasileiro”.
Como é conhecido, o Ministro da
Defesa, Nelson Jobim, vocalizando posição do setor militar contrária a
ingerências indevidas, opõe-se a assinatura do protocolo adicional do Tratado
de Não Proliferação de Armas Nucleares, que daria à AIEA, controlada pelas
potências nucleares, o direito de acesso irrestrito às instalações nucleares brasileiras.
Acesso que não permitem às suas próprias instalações, mesmo sendo claro o
descumprimento, há anos, de uma meta central do TNP, que não determina apenas a
não proliferação, mas também o desarmamento nuclear dos países que estão
armados, o que não está ocorrendo.
Desarmamento unilateral
A revista publica providencial
declaração do físico José Goldemberg, obviamente, em sustentação à sua linha
editorial de desarmamento unilateral e de renúncia ao desenvolvimento
tecnológico nuclear soberano, tal como vem sendo alcançado por outros países, entre
eles Israel, jamais alvo de sanções por parte da AIEA ou da ONU, como se faz
contra o Irã. Segundo Goldemberg, que já foi secretário de ciência e
tecnologia, é quase impossível que o Brasil não tenha em andamento algum
projeto que poderia ser facilmente direcionado para a produção de uma bomba
atômica. Tudo o que os EUA querem ouvir para reforçar a linha de vetos e
constrangimentos tecnológicos ao Brasil, como mostram os telegramas divulgados
pelo Wikileaks. Por outro lado, tudo o que os EUA querem esconder do mundo é a
proposta que Mahmud Ajmadinejad , presidente do Irà, apresentou à Assembléia
Geral da ONU, para que fosse levada a debate e implementação: “Energia nuclear
para todos, armas nucleares para ninguém”. Até agora, rigorosamente sonegada à
opinião pública mundial.
Intervencionismo crescente
O semanário também publica
franca e reveladora declaração do ex-presidente Cardoso : “Não havendo inimigos
externos nuclearizados, nem o Brasil pretendendo assumir uma política regional
belicosa, para que a bomba?” Com o tesouro energético que possui no fundo do
mar, ou na biodiversidade, com os minerais estratégicos abundantes que possui
no subsolo e diante do crescimento dos orçamentos bélicos das grandes
potências, seguido do intervencionismo imperial em várias partes do mundo,
desconhecendo leis ou fronteiras, a declaração do ex-presidente é, digamos, de
um candura formidável.
São conhecidas as
sintonias entre a política externa da década anterior e a linha editorial da
grande mídia em sustentação às diretrizes emanadas pela Casa Branca. Por isso
esses pólos midiáticos do unilateralismo em processo de desencanto e crise se
encontram tão embaraçados diante da nova política externa brasileira que
adquire, a cada dia, forte dose de justeza e razoabilidade quanto mais
telegramas da diplomacia imperial como os acima mencionados são divulgados pelo
Wikileaks.
Fonte: Correntes da Escravidão.