O
operário Paulo Henrique do Nascimento foi encontrado morto por Francisco
Martins Corrêa que também trabalha no desmatamento a serviço do PAC. Foi a
quinta morte este ano em decorrência das obras das usinas de Jirau e Santo
Antônio (RO) ambas hidrelétricas em construção no rio Madeira são o carro-chefe
do PAC e contam com um histórico de irregularidades.
Em
março, uma greve paralisou o canteiro de obras das usinas por quase 25 dias. No
dia 2 de abril, uma assembleia dos trabalhadores decidiu pelo retorno ao
trabalho, após chegarem a um acordo na audiência de conciliação, ocorrida na
noite de 30 de março no TRT-14 (Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região), o
acordo previu o aumento de R$ 170 para R$ 220 da complementação da cesta
básica, para os trabalhadores que recebem até R$ 1,5 mil mensais.
Na madrugada seguinte, ocorreu uma série de
incêndios nos alojamentos dos operários.
O
secretário de Segurança, Defesa e Cidadania (Sesdec) do estado de Rondônia,
Marcelo Berra, confirmou que uma pessoa morreu no canteiro de obras da Usina
Hidrelétrica de Jirau, na madrugada, durante os tumultos que resultaram no incêndio
de 37 alojamentos. Mas, segundo o secretário, a pessoa, cujo nome não foi
revelado, morreu de ataque cardíaco.
Em
nota, a Camargo Corrêa, empreiteira contratada para a construção da obra,
informou que o incêndio atingiu cerca de 30% dos alojamentos. O incêndio
começou às 21h e às 3h30 todas as delegacias de Porto Velho foram acionadas
para investigar o ocorrido. O representante do sindicato diz que havia gente
trabalhando no momento. “Alguns perderam tudo, quando voltaram [do turno],
viram tudo queimado”.
Foi veiculado que milhares de trabalhadores foram retirados em ônibus do canteiro e abrigados no ginásio do Sesi em Porto Velho. Os que desejarem, poderiam voltar para seus locais de origem, com as despesas pagas pela empresa construtora da usina.
Foi veiculado que milhares de trabalhadores foram retirados em ônibus do canteiro e abrigados no ginásio do Sesi em Porto Velho. Os que desejarem, poderiam voltar para seus locais de origem, com as despesas pagas pela empresa construtora da usina.
Entretanto
onze pessoas foram presas na manhã seguinte suspeitos de participação no
incêndio de parte dos alojamentos. Os operários favoráveis a continuação da
paralização foram retirados algemados dos alojamentos ou hotéis onde estavam
alojados, sequestrados e mantidos por 2 dias sem alimento e em cárcere privado
dentro do canteiro de obras de Jirau e depois levados para o presídio de Urso
Branco onde foram presos “nas piores e mais degradantes condições” segundo o
descrito pela Liga Operária.
A
CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Tráfico de Pessoas ouviu no dia 21de
agosto o operário Raimundo Braga de Souza, que trabalhou na Usina Hidrelétrica
Jirau, ele denunciou ter sido preso por 54 dias e espancado “diversas vezes”
por policiais militares do estado e da Força Nacional para admitir participação
no incêndio e também delatar responsáveis.
Para
a Liga Operaria há evidências de que o incêndio que destruiu os alojamentos, no
dia 3 de abril, foi causado pela própria construtora Camargo Corrêa, que tinha interesse
em criar distúrbios para justificar o aumento da repressão sobre os
trabalhadores e também devido aos grandes interesses econômicos que estão por
trás da construção da usina hidrelétrica de Jirau (disputa judicial de
pagamento de seguro, aditivo de contrato no valor de mais de R$ 1 bilhão e
justificar atraso na obra).
Esse conflito foi precedente da
morte de outros companheiros, no dia 3 de maio deste ano, no mesmo canteiro de
obras a inexistência de bandejas de proteção no perímetro da estrutura e cabo
guia para fixação do cinto de segurança, são as causas da queda e morte do
companheiro José Roberto Viana Farias,25 anos(foto). A
ocupação policial-militar do canteiro de obras sufocou a justa manifestação de
revolta dos operários contra a morte do companheiro de trabalho. Com armas em
punho e viaturas circulando em alta velocidade, os policiais da Forca Nacional
e PM impõem terror dentro do canteiro de Jirau.
Em agosto mais um trabalhador da Usina de
Jirau, Valdir Pinheiro Amaral com 31 anos, foi morto. Desta vez o assassinado
se deu em uma discussão com um colega de trabalho, José Ribamar Pereira
Queiros, 27 anos que é acusado de executa-lo com uma facada no coração, a
indignação veio dos colegas em ver a falta de atenção da direção da empresa. A vítima
teria ficado no solo sem socorro por duas horas, não resistiu e morreu no
local, de acordo com trabalhadores não é a primeira vez que acontece esse tipo
de situação no local que é gerido pela Camargo Corrêa.
Já
na Usina Hidrelétrica (UHE) Santo Antônio, segundo o Consórcio Construtor Santo
Antônio, responsável pela obra, o carpinteiro Claudemir Domingos Antônio foi
socorrido após ter sido atingido por uma chapa de aço dia 21 de agosto, mas
morreu no hospital. Na terça-feira 14 de agosto, o armador Derick de Almeida da
Silva caiu de uma altura de 50 metros na área de montagem do Grupo Gerador II
por falta de isolamento da área de circulação.
Durante
a última greve de Jirau, o ministro Edison Lobão teve o desplante de defender
que haveria “alto padrão das condições de trabalho nas obras de usinas no
país”, citando também Belo Monte.
Belo
Monte, beneficiará principalmente a indústria de alumínio e para isso devastará
80% do Xingú. Se fosse gerada energia por biomassa, apenas utilizando o bagaço
desperdiçado da cana-de-açúcar no Brasil, era possível gerar o triplo de
energia que se projeta para Belo Monte.
Mesmo
com todos os contratempos as primeiras turbinas da Usina Hidrelétrica Jirau
devem entrar em operação em janeiro do ano que vem. Em outubro empreendimento
recebeu a Licença de Operação do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis). O documento permite o início do
funcionamento da usina, que terá capacidade instalada de 3,75 mil megawatts,
que serão gerados por 44 turbinas do tipo bulbo. A Usina Hidrelétrica
Santo Antônio, também no Rio Madeira, iniciou a geração comercial de energia no
final de março. Ao todo, cinco turbinas já estão em funcionamento, o PAC usa a
capacidade para abastecer até 1,7 milhão de residências no país como
justificativa de obras que na verdade vão abastecer basicamente a indústria, as
evidencias de melhorias para as populações regionais são esparsas.
É
importante rememorar que na década de 80, centenas de dragas contaminaram
diretamente o leito do rio Madeira. O metal transformado em metilmercúrio é
absorvido pelo plâncton e chega até o homem que se alimenta de peixe, através
da cadeia alimentar. E uma bomba a efeito retardado será acionada no dia que
serão fechadas as comportas do Jirau. Com a alegação de que há antigos locais
de garimpo da margem direita do rio Madeira, toneladas de mercúrio serão
levadas até o leito do rio, agravando a contaminação já existente.
Fonte: Anonymous Brasil.