quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

CANINDÉ - AGRICULTORES TROCAM A ENXADA PELA COSTURA

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Com máquinas de costura emprestadas, os trabalhadores rurais aprendem a fazer peças que são vendidas em feira do município. A seca comprometeu as atividades na agricultura e pecuária, provocando mudanças.
No Distrito de Esperança, a 50km da sede deste município, a seca empurrou os trabalhadores rurais para outras atividades. Algumas delas, antes privilégio das mulheres. "Quem disse que homens rurais devem apenas mexer com a terra esturricada e se expor ao sol de 40 graus todos os dias?", questiona Zezinho Oliveira que, juntamente com dois amigos, busca sobrevivência no aprendizado da costura industrial.

Antes, em época de boa safra, ele acordava todos os dias às 4 horas da madrugada, para começar o trato com os animais e cuidar da lavoura.

Mas, desde novembro de 2012, sua rotina foi alterada. Agora, ele participa de um curso profissionalizante de Costura Industrial. "É cansativo, mas muito gratificante. Estou vivendo uma nova realidade", comemora o agricultor.

Em busca de uma vida melhor, ele e mais os amigos trocaram a enxada, a foice, o machado e o cultivador pela máquina de costura em um núcleo de confecção rural.

Hoje, após vários dias de trabalho e parcerias, eles começam a colher os frutos do que plantaram, ou melhor, do que apostaram. "O dia a dia do pequeno agricultor é bem diferente do grande fazendeiro. Então, pensava: precisamos fazer alguma coisa para sairmos desse sofrimento. Parecia um delírio, mas sabia que, na maioria dos homens, não haveria aceitação por conta dos preconceitos. Costurar é coisa para mulher, homem tem que trabalhar é na roça´´, pensava.

Segundo Zezinho Oliveira, no começo, a ideia de trocar as ferramentas agrícolas por máquinas de costura causou muita estranheza. "A maioria das pessoas tem uma ideia de que desenvolver projetos na zona rural é plantar milho, feijão, mandioca ou criar bode, ovelha e gado".

Porém, este pensamento, segundo ele, "está errado". "Temos muito mais capacidade do que isto. Além do mais, temos que criar novos mecanismos de trabalho e alternativas de renda para continuar a vida no campo e conviver com a seca. E foi pensando desta forma que conseguimos chegar a essa nova realidade sertaneja´´, disse.

Para ele, a frase de Euclides da Cunha, "o sertanejo é acima de tudo um forte´´, retrata o momento de hoje da população sertaneja. "A seca expulsou todo mundo, matou os animais de fome e sede e quem não quis morrer em pé, teve que pensar em outro meio de vida. Não podíamos era parar. Costurar é um trabalho digno e que vale a nossa sobrevivência´´, diz ele, com orgulho. A persistência do agricultor mostra o alto grau de esperança de uma vida mais digna, seja ela no campo ou na cidade.

Apenas três homens, Francisco Cláudio Gomes Nascimento, Egídio Maciero de Sousa e o próprio Zezinho levam em frente à ideia da costura industrial.

Eles produzem shorts ao preço unitário de R$ 5,00 para revenda. O grupo já produz duas mil peças por semana, que são vendidas de porta em porta e numa feira livre de Canindé, localizada na Rua Gervásio Martins, todas as quartas-feiras.

Maria Moreira da Silva, que conseguiu o empréstimo das máquinas de costura junto a empresários de Fortaleza, é uma das grandes incentivadoras para que os homens deixem o preconceito de lado e iniciam o trabalho na nova fonte de renda.

"Neste momento, o que vale mesmo é a sobrevivência. A seca gera situações indesejáveis, mas o que importa agora é superar todo o sofrimento e deixar o preconceito de lado´´, diz ela.
Fonte:Diário do Nordeste
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