Foram registradas nove ocorrências de brigas de gangue entre a quarta-feira, dia 8, e a quarta-feira seguinte, dia 15, todas em Fortaleza. Segundo a Polícia, os grupos disputam o controle do tráfico de drogas
A praça da Paróquia Coração Imaculado de Maria, no Henrique Jorge, celebrou o primeiro dia da festa da padroeira na quarta-feira, dia 8 de agosto. Entretanto, orações e músicas deram lugar, noite e madrugada adentro, à briga de dois grupos rivais que, segundo a Polícia, disputam o controle do tráfico de drogas na região. “Eu e minha mãe só fizemos nos abaixar. Se tivesse ficado em pé, era capaz de nem estar aqui para contar a história”, conta um homem de 52 anos, morador do bairro. “Antigamente, as pessoas ficavam na rua. Agora, quando dá nove da noite, já se trancam”, complementa.
No dia seguinte, pela manhã, uma casa contava cinco balas cravadas nas paredes e outra no chão. A calçada do supermercado estava suja de sangue. A cabeça dos moradores, cheia de medo de sair de casa. O resultado da ação no bairro Henrique Jorge foram sete pessoas baleadas e um jovem morto.
Da quarta-feira, 8, até a quarta-feira seguinte, 17 pessoas ficaram feridas e outras sete morreram durante tiroteios na Capital. Todas as vítimas, segundo a Polícia, são fruto de conflitos entre grupos rivais que disputam o controle do tráfico de drogas. Ao todo, foram nove confrontos.
As brigas pelo controle de tráfico de drogas se deram, segundo levantamento feito pelo O POVO, nos bairros de Messejana, Paupina, Barroso, Canindezinho, Moura Brasil, Edson Queiroz, Conjunto Palmeiras, Aeroporto e Henrique Jorge. Os números impressionam pelo fato de o intervalo ser de apenas uma semana.
O titular do Comando do Policiamento da Capital (CPC), coronel Pinheiro Silva, informou que não seria possível repassar, até o fechamento desta matéria, a quantidade de brigas de grupos rivais ocorridas em Fortaleza em agosto.
No entanto, o Instituto Dr. José Frota (IJF) registrou, neste mês (até o dia 15), 143 atendimentos a pessoas com ferimentos de armas de fogo. O número já supera em quase 6% a quantidade registrada no mesmo período do ano passado, que foi de 135 pacientes. Uma parte significativa desse total, conforme o coronel Pinheiro, seria resultado das brigas entre as chamadas gangues.
“Estamos fazendo o trabalho de identificação dos integrantes (das gangues) e já identificamos vários deles”, informou coronel Pinheiro. Quando questionado sobre o motivo de as prisões ainda não serem realizadas, o comandante do CPC informou que, caso a Polícia não consiga prender em flagrante, é necessário aguardar que a prisão seja decretada pela Justiça. “O trabalho é realizado juntamente com a delegacia da área, para subsidiar o delegado para pedir a prisão”, assegura.
Enquanto isso, centenas de pessoas vivem refém do próprio medo. Um vendedor ambulante de 19 anos, que trabalha no Henrique Jorge conta que deixou de trabalhar à noite no bairro por medo da violência. “Antes ficava até às nove da noite. Hoje fico só até às cinco”, conta. “E o Henrique Jorge nem é um dos piores bairros, é só porque as pessoas não vinham mais comprar a mercadoria”, relata. Ele diz que vendia entre 50 e 60 DVDs por dia. Hoje, não vende nem 10.
Por quê
ENTENDA A NOTÍCIA
O chamado microtráfico é o principal responsável pela quantidade de mortos e feridos em brigas de gangue em Fortaleza, segundo especialistas ouvidos pelo O POVO. São gangues de pequeno e médio portes que disputam o controle do tráfico na Capital e vivem em constante conflito.
Saiba mais
Em setembro do ano passado, O POVO publicou série de matérias mostrando que a a disputa pelo tráfico de drogas criou territórios rivais em Fortaleza.
Na época, a reportagem mapeou sete bairros em Fortaleza onde havia conflitos entre grupos rivais: Aerolândia, Barra do Ceará, Bom Jardim, Jangurussu, Pirambu, Messejana e Tancredo Neves.
Quatro desses bairros apareciam no topo do ranking de homicídios de adolescentes, segundo o Mapa da Violência e da Criminalidade 2011, elaborado em conjunto pela Uece, UFC e Guarda Municipal.
No estudo, foram contabilizados homicídios entre 2007 e 2009. Messejana (29 mortes), Bom Jardim (21), Jangurussu (20) e Barra do Ceará (14) lideravam o ranking.
Fonte: O Povo