As
medidas de isolamento social para conter a disseminação do novo coronavírus
afetam sobretudo os negócios que envolvem o consumo fora do lar. O setor de
restaurantes, que empregava até o início de março cerca de 6 milhões de
funcionários diretos, entre formais e informais no Brasil, é um dos que mais
tem sentido a crise. De acordo com uma pesquisa da Associação Nacional de
Restaurantes (ANR), obtida em primeira mão pelo CNN Business,
três em cada quatro restaurantes (77%) realizaram demissões desde o início da
pandemia, em março. A associação estima que cerca de 1 milhão de trabalhadores
do setor já perderam o emprego desde o início da crise. A pesquisa foi
realizada entre 10 e 14 de maio, com cerca de 60% dos associados da ANR, que
representa mais de 9 mil pontos comerciais do país, entre redes, franquias e
restaurantes independentes.
Um
exemplo é a rede paulista Frango Assado, fundada em 1952, possui 25
restaurantes em mais de 20 cidades. A maioria de suas unidades são
localizadas em postos de combustíveis em rodovias e seguem abertos, mas com
adaptações. “Removemos metade das mesas para dar maior espaçamento entre os
clientes, retiramos o buffet e passamos a oferecer refeições em embalagens para
levar. Além do uso de máscaras e luvas, e medição da temperatura dos
funcionários ao longo do dia”, diz Newton Maia, presidente da IMC, companhia de
capital aberto que detém as marcas Frango Assado, KFC e Pizza Hut. Mesmo assim,
a rede demitiu 30% dos funcionários porque o faturamento caiu tanto quanto o
fluxo de clientes e das rodovias. “Com o compromisso de recontratá-los com
prioridade quando as coisas melhorarem”, afirma Maia.
O
setor de restaurantes tem cerca de 1 milhão de empresas no país que, em
conjunto, faturaram 400 bilhões de reais em 2019. Mas depois da crise, segundo
a pesquisa da ANR, 21% dos empresários afirmam que não devem conseguir manter
seus restaurantes abertos. Isso porque a maioria não tem capital de giro
suficiente para continuar pagando as contas sem faturamento. “São mais de 70
dias que estamos fechados, seguindo os protocolos do Ministério da Saúde e da
Organização Mundial de Saúde, e já temos nossos protocolos para reabertura. Mas
85% dos restaurantes tiveram seus pedidos de empréstimo recusados por
instituições financeiras, e sem crédito o número de demissões deve crescer
bastante”, diz Cristiano Melles, presidente da ANR. A pesquisa apontou que 32%
das empresas entrevistadas com mais de uma loja já fecharam algumas unidades em
definitivo.
A
Associação Nacional dos Restaurantes defende a extensão dos prazos da MP 936,
que permite suspensão de contratos com carteira assinada, e a redução de
jornada e de salários, de 60 para 120 dias. Entre os entrevistados da pesquisa,
78% responderam que fizeram uso da medida provisória para conseguir pagar a
folha de pagamento de abril. “Não vai ser só com o delivery que os restaurantes
vão conseguir sobreviver”, conclui Melles. Apenas com delivery, 40% dos
entrevistados não chegam a faturar nem 10% da receita de antes da crise.
Somente 15% conseguem chegar a mais da metade da receita que tinham antes da
crise.
Com informações da CNN Brasil