Quem
não ficou em casa de forma voluntaria, a partir de hoje, 8, deve fazê-lo
obrigatoriamente. O isolamento domiciliar como estratégia de combate à
disseminação do novo coronavírus passa a outro nível de rigidez em Fortaleza.
Com o lockdown, só é permitido realizar deslocamentos essenciais. Na realidade
imposta pela pandemia, a ampliação da estrutura de internação hospitalar — que
teve incremento de 64% nos leitos de terapia intensiva em 40 dias — não
conseguiu acompanhar a evolução da doença e consequente demanda por leitos. Se
as pessoas continuarem com os mesmos hábitos de deslocamento observados até
ontem, 7, o número de mortos pode chegar a 5 mil no Ceará, com colapso do
sistema de saúde previsto para o final de maio.
O
Ceará atingiu 903 mortes até esta quinta-feira, 7, em decorrência da infecção.
Foram registrados 13.888 casos do novo coronavírus, conforme atualização da
plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), às 18h11min.
Segundo a pasta, a taxa de ocupação das Unidades de Terapia Intensiva (UTI)
para Covid-19 nas unidades sob gestão da Sesa é 98% na região de Fortaleza e
93% no Estado. Metade dos hospitais privados com UTIs no Ceará teve a
capacidade esgotada, de acordo com a pasta. Duzentos respiradores são esperados
no Ceará até o fim da semana que vem, disse Dr. Cabeto, titular da Sesa, em
coletiva. Segundo ele, 100 aparelhos já estão no aeroporto de Pequim, capital
da China, esperando liberação para o traslado. Até o começo de junho, são previstos
mais 300.
A
grande ocupação de leitos de alta complexidade, já beirando o limite máximo,
foi uma das razões apontadas para o endurecimento das medidas de isolamento.
Outras razões foram o quadro epidemiológico e a grande propagação de casos -
com grande índice de letalidade nas duas últimas semanas - e o relaxamento da
população quanto às medidas de isolamento, medida em bairros a partir das
aglomerações e aumento do tráfego.
As
informações são do "Relatório Fortaleza Covid-19 - expansão do contágio e
exaustão do sistema", feito pela Prefeitura de Fortaleza e pelo Governo do
Estado. No texto, a situação da Capital é considerada "dramática".
Levando em conta a quantidade de mortes, os casos registrados e a grande
subnotificação, a projeção é de colapso na rede de saúde no dia 30 de maio ou
pouco antes disso.
Conforme
o estudo e boletim epidemiológico divulgados ontem pela Prefeitura, são
projetadas 5 mil mortes até o final de maio, sendo 4 mil em Fortaleza. Conforme
José Soares de Andrade Júnior, do Departamento de Física da Universidade
Federal do Ceará (UFC) e cientista-chefe da Fundação Cearense de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), não é possível, agora,
prever o pico da pandemia no Estado, porque, com as medidas mais restritivas,
as circunstâncias serão alteradas.
"Tecnicamente,
é necessário que haja redução de casos confirmados, de mortes e internações
todos os dias durante duas semanas. Com essa diminuição progressiva que se
avalia o impacto, se a gente considerar que o período de incubação vai de cinco
a 15 dias", explica Luciana Costa, professora do Instituto de
Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Só após esse
período é possível dizer por quanto tempo será necessário o lockdown, conforme a
virologista. "Se a gente for levar em conta os países europeus, foi cerca
de um mês, mês e meio", pontua. "Todos os cientistas,
epidemiologistas e médicos sabem o impacto econômico disso, mas a gente precisa
salvar vidas e a gente salva vidas dessa forma", acrescenta.
O POVO