"Não
são verdadeiras as insinuações de que desejaria saber sobre as investigações em
andamento. Nos quase 16 meses em que esteve à frente do Ministério da Justiça,
o senhor Sergio Moro sabe que jamais lhe procurei para interferir nas
investigações que estavam sendo realizadas, a não ser aquelas, não via
interferência, mas quase como uma súplica, sobre o Adélio [Bispo], o
porteiro, e meu filho 04 [Jair Renan]", afirmou o presidente, em uma
referência às investigações sobre a tentativa de assassinato contra ele na
campanha eleitoral de 2018 e às investigações da Polícia Civil do Rio de
Janeiro sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco, também em 2018.
Bolsonaro citou a lei n° 13.047 de 2014 para destacar que tem a prerrogativa de
nomear e exonerar o diretor-geral da PF.
"Falava-se
em interferência minha na Polícia Federal. Ora bolas, se eu posso trocar o
ministro, por que eu não posso, de acordo com a lei, trocar o diretor da
Polícia Federal? Eu não tenho que pedir autorização para ninguém para
trocar o diretor ou qualquer um outro que esteja na pirâmide hierárquica do
Poder Executivo. Será que é interferir na PF quase que exigir, implorar
[a] Sergio Moro que apure quem mandou matar Jair Bolsonaro? A PF de Sergio Moro
mais se preocupou com Marielle [Franco, vereadora assassinada] do que seu
chefe supremo? Cobrei muito dele isso daí, [mas] não interferi", afirmou.
O diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, nome indicado por Sergio Moro, foi exonerado do cargo nesta sexta-feira.
O
decreto de exoneração de Moro do cargo de ministro foi publicado em edição extra do Diário Oficial da União,
no final da tarde de hoje. Em um pronunciamento pela manhã para anunciar que
deixaria o governo, Sergio Moro afirmou que Bolsonaro queria colocar alguém de
sua própria confiança na direção da PF. "Me disse, mais de uma vez,
expressamente, que queria ter [na direção-geral da PF] uma pessoa do contato
pessoal dele, para quem ele pudesse ligar, colher informações, que pudesse
colher relatórios de inteligência. Este, realmente, não é o papel da PF”,
afirmou Moro.
Jair
Bolsonaro disse, em seu pronunciamento, que, como presidente, tem o direito de
se dirigir diretamente a outros funcionários do governo federal, inclusive
subordinados de seus ministros. "O dia que eu tiver que me submeter a
qualquer funcionário meu, eu deixarei de ser presidente da República. Falei
para que ele que quero um delegado [...] que eu possa interagir com ele. Por
que não? Eu interajo com os órgãos de inteligência das Forças Armadas, eu
interajo com a Abin [Agência Brasileira de inteligência], interajo com qualquer
um do governo. Sempre procuro o ministro, mas numa necessidade, eu falo
diretamente com o primeiro escalão daquele ministro", afirmou.
De
acordo com Bolsonaro, o delegado Maurício Valeixo estaria cansado e a troca no
comando da PF foi conversada com Sergio Moro. "Conversando ontem com o
Moro, entre muitas coisas, até que chegou na questão Valeixo, e eu falei que
está na hora de botar um ponto final nisso. Ele está cansado, está fazendo como
pode o seu trabalho. Pessoalmente, não tenho nada contra ele. Conversei poucas
vezes com ele durante um ano e quatro meses, sim, poucas vezes, mas conversei
com ele, e a maioria das vezes estava o Sergio Moro do lado. Então, falei que
no dia de hoje o Diário Oficial publicaria a exoneração do senhor
Valeixo. E pelo que tudo indicava, uma exoneração a pedido."
Em
publicação no Twitter, após o pronunciamento, o agora ex-ministro Sergio Moro
voltou a afirmar que o ex-diretor-geral da PF não pediu demissão do cargo.
"De fato, o diretor da PF Maurício Valeixo estava cansado de ser assediado
desde agosto do ano passado pelo Presidente para ser substituído. Mas, ontem,
não houve qualquer pedido de demissão, nem o decreto de exoneração passou por
mim ou me foi informado", postou.
No
final da tarde, o Diário Oficial da União também trouxe, em edição
extra, uma nova publicação da exoneração de Maurício Valeixo da PF,
desta vez sem a assinatura eletrônica de Sergio Moro, que constava na primeira
versão do decreto.
Vaga
no STF
Bolsonaro
disse ainda que Sergio Moro condicionou a demissão de Maurício Valeixo a uma
indicação para a vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). "Já
que ele falou em algumas particularidades, mais de uma vez o senhor Sergio Moro
disse pra mim: você pode trocar o Valeixo sim, mas em novembro, depois que o
senhor me indicar para o Supremo Tribunal Federal. Me desculpe, mas não é por
aí. Reconheço as suas qualidades, em chegando lá, se um dia chegar, pode fazer
um bom trabalho, mas eu não troco. Outra coisa, é desmoralizante um presidente
ouvir isso".
Sobre
esse trecho, no Twitter, o ex-ministro escreveu: "A permanência do Diretor
Geral da PF, Maurício Valeixo, nunca foi utilizada como moeda de troca para
minha nomeação para o STF. Aliás, se fosse esse o meu objetivo, teria
concordado ontem com a substituição do Diretor Geral da PF".
Agência
Brasil