segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Estado do Ceará já tinha informações do planejamento de ataques criminosos, afirma secretario.

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No começo de 2019, facções criminosas realizaram ataques no Ceará.
Um ano depois da maior série de ataques da história do Ceará, o secretário da Administração Penitenciária (SAP), Mauro Albuquerque, afirma que o Estado já tinha conhecimento do planejamento de ações criminosas, de dentro dos presídios cearenses.

As facções criminosas promoveram 283 ataques a instituições públicas e privadas, na Capital, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) e Interior, durante 33 dias, no começo de 2019.

"Eles (presos) já estavam em planejamento. A gente tinha algumas informações da cadeia, mesmo estando no Rio Grande do Norte (onde trabalhava antes). Eles já estavam descontentes. Eles não iam aceitar minha vinda para cá", diz o secretário.

A motivação da série de ataques foi atribuída à declaração de Mauro Albuquerque de que ia reunir presos de facções rivais na mesma unidade - que antes eram mantidos em presídios diferentes. Mas o secretário não acredita que a causa tenha sido especificamente essa fala.

"O que eu falei é que o Estado é detentor do controle das unidades. De outra forma, está errado. Eles (presos) não queriam perder as regalias, o grande fluxo de dinheiro que ganhavam dentro das unidades penitenciárias e decidiram protestar", alega.

As ações criminosas não surpreenderam Albuquerque. "Eu já conhecia o modus operandi dos grupos criminosos aqui do Ceará. Em 2016 (ano da maior crise do Sistema Penitenciário Estadual, com rebeliões e mortes), eu estive aqui. E desde 2015, eles atacam vocês (cearenses). Qualquer coisa que façam com que eles fiquem frustrados, eles atacam. Eu já tinha uma ideia. A gente já imaginava que ia ter ataque. Agora, calcular o desdobramento... é você estar preparado para o que vier", afirma.

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) não aceitou conceder entrevista sobre o assunto. Questionada por e-mail se a resposta da Polícia foi tardia, a Pasta respondeu, em nota, que "as Forças de Segurança do Ceará atuaram para reprimir todas ações criminosas que foram registradas no Estado, com a participação fundamental do trabalho de inteligência, que frustrou diversas ações criminosas. O Estado deu a resposta certa, direta e imediata que a situação exigiu".

A socióloga e pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC), Suiany Moraes, acredita que "a Polícia já esperava, de certa forma, a série de ataques". "Eu acho que ela não esperava com a intensidade que se deu. Mas algumas pistas, antes da série de ataques, já indicavam que poderia ter. Desde 2018, o Governo do Estado já havia encontrado, dentro das prisões, trocas de bilhetes, que falavam sobre uma possibilidade de ataque massivo ao Estado. E no final de 2018, aconteceu um episódio que passou batido pela imprensa e pela sociedade em geral. Que foi um roubo de um caminhão, com toneladas de dinamite", analisa.

Reação do Estado

A série de ataques obrigou que o Estado aprovasse leis de combate ao crime organizado às pressas e pedisse reforços federais e de outros estados. Os esforços resultaram na captura de 466 suspeitos, entre adultos e adolescentes.

"A repressão aos infratores foi enérgica e mostrou que o Estado não recuou, pondo em prática medidas efetivas no combate ao crime organizado", classificou a SSPDS.

"Os ataques mostraram uma capacidade de mobilização muito grande. Tanto por parte do crime, que conseguiu mobilizar e aglutinar uma série de pessoas em volta disso, e a capacidade de aglutinação do Governo do Estado, com agentes vindo da Força Nacional e de outros estados", aponta Suiany.

Nos presídios, mesmo em meio à onda de ações criminosas, o Estado implantou mudanças. A principal delas foi o fechamento de mais de 100 cadeias públicas no Interior. "Como é que você vai manter um criminoso preso, se não está preso? Em um dos ataques que aconteceram no Interior, a Polícia Militar pegou os caras voltando para a cadeia", revela Mauro Albuquerque.

"Outra situação foi tirar as lideranças do meio da massa e os executores. Tiramos os dois escalões de liderança. Com isso, eu libertei os presos, que eram forçados a fazer muitas ações dentro Sistema Prisional. Nós tiramos o meio de comunicação direto deles, que era o celular. Tiramos os meios de informação, que eram os televisores e os rádios. E tiramos todo o potencial ofensivo que eles tinham dentro da cadeia, as armas brancas", completa o secretário.

Novas leis
- Lei da Recompensa, que paga em dinheiro quem denunciar autores de ataques ou fornecer informações que possam prevenir crimes;

- Retirada das tomadas em celas de presídios, para evitar que criminosos possam usar carregadores de celular;

- Aumento de 48 para 84 o máximo de horas extras que policiais civis, militares e bombeiros podem fazer por mês;

- Convocação de policiais da reserva para aumentar o efetivo nas ruas;

- Criação de um banco de informações sobre veículos destruídos na onda de ataques;

- Restrição da presença de pessoas no entorno dos presídios, com objetivo de evitar fugas;

- Criação do Fundo de Segurança Pública, que terá reserva para investir na prevenção de crimes e pagar beneficiados da Lei da Recompensa;

- Regularização do comando de tropas de policiais militares cedidas por outros estados (o que na prática já está acontecendo com agentes cedidos pelos governos de Bahia, Piauí, Santa Catarina e Pernambuco)

   Reforço
- 500 agentes da Força Nacional de Segurança (FNS) e da Força de Intervenção Penitenciária (FIP);

- 385 policiais rodoviários federais, além de um helicóptero cedido pela PRF;

- 200 policiais militares da Bahia, Piauí, Pernambuco e Santa Catarina;

- 220 agentes penitenciários nomeados logo em janeiro (antes seriam em março);

- 373 policiais militares, já formados, também foram convocados antecipadamente;

- 800 militares da Reserva Remunerada foram convocados para reforçar a Ativa;

- pagamento de horas extras a policiais civis e militares do Ceará.

Preparado?
O Ceará voltou a sofrer com ações criminosas, com menos intensidade, em setembro de 2019. Desta vez, foram ao menos 120 ataques e 223 suspeitos capturados. Desde 2016, o Estado é alvo de ataques das facções. Para que a história não se repita em 2020, as secretarias da Administração Penitenciária e da Segurança Pública apostam na integração entre as diversas Forças de Segurança e a Inteligência.

"O Sistema Penitenciário é uma fonte de informações para a Secretaria da Segurança Pública. A gente vai continuar trabalhando para reverter esse crime e dar a melhor proteção para a população", garantiu Mauro Albuquerque. Em nota, a SSPDS afirmou que "o trabalho das forças de segurança segue firme e rigoroso, fortalecendo a difusão e o compartilhamento de dados e a produção de informação para alimentar as agências de inteligência do Estado".

A socióloga Suiany Moraes acredita que o Estado aprendeu com as experiências dos anos anteriores e está mais preparado para possíveis novos ataques. "Justamente por estar investindo mais em inteligência. Recentemente, por exemplo, o Governo anunciou um concurso da Polícia Civil. Quem investiga é a Polícia Civil. Agora, logicamente, o Governo não tem condição de dar conta de tudo. A dinâmica do tráfico de drogas é muito rápida", pondera.
 G1 Ceará 


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