O
estado não produz drogas e não possui indústria bélica. Todo esse arsenal e
drogas vêm de longe. A ação de organizações criminosas ultrapassa as divisas
estaduais
Mais
de 12 mil armas de fogo, cerca de 9 toneladas de maconha e quase 1.000 kg de
cocaína e crack. O balanço de apreensões da polícia entre 2017 e 2018 evidencia
a atuação do crime organizado no Ceará.
O
estado não produz drogas e não possui indústria bélica. Todo esse arsenal e
drogas vêm de longe. A ação de organizações criminosas ultrapassa as divisas
estaduais.
O
Ceará faz fronteira com quatro estados. Nessas regiões de limite territorial,
atua o Batalhão de Divisas desde 2015. Já nas áreas não-urbanas do interior, a
responsabilidade de fiscalização é do Comando Tático Rural.
Mesmo
assim, especialistas apontam que as estradas servem de entrada de armas e
drogas no estado, apesar de não ser a única forma de acesso para a distribuição
desses materiais. Em Aracati, perto da divisa com o Rio Grande do Norte,
caminhoneiros dizem que há falta de fiscalização de transporte de carga nas
estradas que ligam os estados do Nordeste.
No
interior o Ceará, há 12 aeroportos registrados pela Agência Nacional de Aviação
Civil. Um mapa do Governo Estadual indica a existência de outros 27 campos de
pouso.
Foi
também pelo aeroporto de Aracati que, em setembro do ano de 2017, chegaram Gegê
do Mangue e Paca, dois líderes da cúpula nacional do PCC.
Rogério
Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca,
estariam morando na Bolívia e vieram para o Ceará em voo particular. No início
deste ano, foram levados de helicóptero a uma reserva indígena e acabaram
mortos a tiros. As investigações apontam que o crime foi ordenado pelo
principal líder do PCC fora do sistema prisional, Gilberto Aparecido dos
Santos, o Fuminho.
A
TV Jangadeiro/SBT apurou que Fuminho teria um documento de identidade com nome
falso indicando o município de Acopiara, no Ceará, como local de nascimento.
Ele é foragido do Brasil há duas décadas, estaria radicado na Bolívia e é
procurado pela Interpol.
Em
Acopiara, a polícia apreendeu em 2012 mais de 150 kg de cocaína que haviam
chegado do Mato Grosso de avião. O piloto acabou preso quando fazia uma parada
do voo de retorno. Felipe Ramos Morais foi capturado em Picos, no Piauí e, este
ano, voltou a ser preso no Ceará.
Ele
pilotava o helicóptero usado nas mortes de Gegê do Mangue e Paca. Além do avião
apreendido no Piauí, pelo menos outras três aeronaves que traziam entorpecentes
para pequenos aeroportos do interior foram flagrados desde então.
De
acordo com o Walmir Medeiros, oficial da reserva do Exército, as drogas e as
armas são trazidas de São Paulo, Rio de Janeiro e, principalmente, de Mato
Grosso e Amazonas. O material clandestino também vem por via marítima.
Armas,
narcotráfico, confrontos entre organizações criminosas. O cenário de violência
hoje em Fortaleza tem características semelhantes com uma cidade colombiana de
nos anos 90: Medellín, a apontada como uma das mais violentas do mundo. Cerca
de 400 homicídios por 100 mil habitantes.
Medellín
conseguiu reduzir a violência e, hoje, é referência mundial de desenvolvimento
urbano. Aníbal Gaviria, ex-prefeito de Medellín, acredita que algumas medidas
adotadas ao longo das duas últimas décadas poderiam ser aplicadas em Fortaleza.
Quase
19 adolescentes são mortos por semana no Ceará. O número relativo ao ano
passado aumentou 50% comparado a 2016. Considerando os 5.134 homicídios do ano
passado, é possível afirmar que a cada cinco vítimas uma era adolescente.
Tribuna
do Ceará