segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Fósseis de animais mais antigos achados no CE são apresentados

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São invertebrados que viveram há 540 milhões de anos no Estado. Exemplar é um dos mais raros do País
Fortaleza. Registros das espécies animais mais antigas do mundo, anteriores aos dinossauros, já foram encontrados no Ceará, como pouco se tem conhecimento no Brasil. Viveram há 540 milhões de anos. Quando se completa dez anos que os fósseis desses animais foram encontrados por moradores do município de Pacujá, na Zona Norte (ainda sem saber do que se tratavam), os estudos que referendam o achado como um dos mais antigos e raros já encontrados no Brasil foi referendado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e apresentado, neste mês, à comunidade científica internacional, no Estado do Mato Grosso do Sul.

Sítio paleontológico no município de Pacujá, com moldes dos animais mais primitivos do planeta
Paleontólogos do mundo inteiro estiveram reunidos, na semana passada, em Corumbá (MS), para discutir sobre os estudos na área e conhecer as mais recentes pesquisas. Uma delas consiste na apresentada pelo recém-doutor em Paleontologia Rony Barroso, que decidiu investigar a temporalidade dos fósseis da fauna de Ediacara, atualmente expostos no Museu Dom José, em Sobral.

Os fósseis foram encontrados em 2010 pelos moradores Antonio Alancardé Leopoldino e Moura Oliveira que os apresentaram à dra. Somália Viana, professora da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e coordenadora do Laboratório de Paleontologia. Mas somente após os estudos do cearense Rony Barrroso e dos pernambucanos Mário Lima Filho e Sonia Agostinho que os espécimes foram identificados como elementos da fauna de Ediacara, representando uma das primeiras ocorrência no Nordeste do Brasil - há registros de ocorrência brasileira também no Mato Grosso do Sul.

"Ficamos muito felizes com o achado, que corrige a informação anterior. Quando foi encontrado, sabia-se que era antigo, mas não se esperava que fosse da fauna de Ediacara, portanto, os mais antigos ainda", afirma Rony Barroso, doutor em geociências pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que fez o trabalho em cooperação com a Universidade Estadual Vale do Acaraú ao lado da Professora doutora Somália Viana, a mesma para quem os fósseis foram apresentados em 2010 pelos moradores de Pacujá que o acharam.

Rochas com animais fossilizados foram encontradas em 2003 por moradores de Pacujá. Sete anos depois, constatou-se serem de animais que viveram há 540 milhões de anos. Estudo foi apresentado à comunidade científica FOTO: DANIEL MADEIRA

Raridade

Conforme Rony Barroso, a fauna de Ediacara corresponde a pequenos animais enigmáticos e representa o aparecimento dos primeiros organismos multicelulares na história da Terra, nomeada pela mais famosa localidade, as Montanhas de Ediacara, no Sul da Austrália. Esta fauna surge em um tempo chamado de Neoproterozóico (aproximadamente há 570 milhões de anos) e se extingue totalmente no Cambriano (há 540 milhões de anos). É registrada em mais de trinta localidades, das quais, as quatro mais estudadas situam-se na Austrália, no Canadá, na Rússia e na África do Sul.  

Naquela época, um super continente  (o Gondwana) reunia terrenos da América do Sul, África, Antártica e Austrália, cujas condições ambientais litorâneas foram responsáveis pelo desenvolvimento de um dos grandes eventos biológicos: o aparecimento dos primeiros seres invertebrados.

Tamanho

Os representantes da fauna de Ediacara geralmente têm poucos centímetros, com alguns poucos gigantes medindo mais de um metro de comprimento. "Eram animais de corpo mole, gelatinoso, sem esqueletos, apresentando formas de discos, frondes e formas segmentadas, bem diferentes dos animais que conhecemos hoje", afirma o paleontólogo Rony Barroso.

A extinção desta fauna antecede o surgimento dos animais marinhos modernos que apresentam conchas, carapaças protetoras, esqueletos e garras afiadas. Isso é bem diferente dos animais de Ediacara que tinham um corpo gelatinoso.

Rochas
A maioria dos fósseis ediacaranos são impressões em areia grossa, sob condições de alta energia em ambientes marinho raso que teria soterrado os animais acidentalmente. Um pouco mais tarde, essas areias transformaram-se em rochas (os arenitos), atualmente com cerca de 560 milhões de anos, conforme estudos avançados.

O material faz parte da bacia sedimentar do Jaibaras, nas proximidades da cidade de Pacujá com o distrito de Jaibaras, em Sobral, onde se encontrou o animal fossilizado.

FIQUE POR DENTRO
Animais anteriores aos dinossauros

O primeiro trabalho sobre a ocorrência desses animais primitivos no Nordeste do Brasil foi apresentado no I Simpósio Brasileiro de Paleoinvertebrados, na cidade de Bauru, São Paulo, em novembro de 2012. Foram descritas oito espécies até o momento: Charniodiscus arboreus Glaessner, 1959; Charniodiscus concentricus Ford, 1958; Cyclomedusa davidi Sprigg, 1947; Ediacaria flindersi Sprigg, 1947; Medusinites asteroides Sprigg, 1949; Kimberalla quadrata Glaessner & Wade, 1966; Palaeoghragmodictyon reticulata Gehling & Rigby, 1996; e Parvancorina minchami Glaessner, 1958. Em virtude da importância deste achado paleontológico, o trabalho foi premiado no mesmo evento. Portanto, esta ocorrência ressalta a importância do Estado do Ceará no cenário da paleontologia brasileira e mundial.

A fauna de Ediacara do Nordeste do Brasil viveu num ambiente flúvio-deltáico com ingressão marinha, na porção mais próxima do continente, onde o substrato era inconsolidado, com boas condições de oxigenação e de luminosidade. As águas rasas seriam ricas em nutrientes, devido ao transporte constante de fluidos vindos do continente, em direção ao centro da bacia, beneficiando a biota de hábitos filtradores.

Mais Informações:
Museu Dom José
Av. Dom José, Centro - Sobral
Telefone: (88)3611-3525
E-mail: ronybarroso@hotmail.com

MELQUÍADES JÚNIORREPÓRTER
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