Não
obstante o indicativo de estabilização dos casos da Covid-19 na Capital na
última semana, o Ceará apresenta aumento de casos nos municípios da Região
Metropolitana de Fortaleza (RMF) e do Interior. Essa nova configuração no
cenário da pandemia no Estado apresenta outros desafios para a rede pública de
saúde. Além da ampliação da estrutura de leitos de internação, que se
concentra, em sua maioria, em hospitais referenciados nos municípios de grande
porte, o atendimento demanda profissionais especializados e estrutura de
transporte para levar os pacientes de municípios pequenos até as grandes sedes
regionais. Um dos caminhos, é fortalecer a rede primária, para que a
identificação de casos seja precoce.
Há
um mês, a proporção de casos fora da Capital era de 18%. A taxa chegou 40% até ontem,
21. São 31.413 casos confirmados no Estado até esta quinta-feira, conforme
atualização da plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa),
às 18h17min. Desse total, 18.644 (60%) se concentra em Fortaleza. Já são 2.161
mortes em decorrência do novo coronavírus no Estado. A taxa de letalidade é de
6,8%.
Em
números absolutos, Caucaia
(1.104), Sobral (840), Maracanaú (730), Itapipoca (536) e Eusébio (491)
seguem a Capital em maior número de confirmações laboratoriais. As maiores
taxas de incidência (número de confirmações em relação à população do
município) e de mortalidade (número de óbitos em relação à população) são
observadas, principalmente, na RMF e
na região Norte.
Conforme
Sayonara Cidade, presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do
Ceará (Cosems-CE), nesse momento, é importante adotar o protocolo estadual de
atendimento aos pacientes diagnosticados com o novo coronavírus desde a atenção
básica até a alta complexidade. Ela frisa a importância do monitoramento de
pessoas dos grupos de risco pela atenção primária. "Não vamos
ter o quantitativo de leitos de internação suficiente se não fizermos o
monitoramento pela atenção primária. Os grupos de risco precisam ser monitorados.
Aqui no Cedro, fizemos um zoneamento na cidade e fazem o acompanhamento de
perto, ligam para os pacientes", diz.
Segundo
a epidemiologista Lígia Kerr, professora do Departamento de Saúde Comunitária
da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), os
municípios mais afastados das sedes regionais precisam de mais transporte.
"As pessoas demoram para chegar até os hospitais. E pelas características
dessa doença, quando você percebe que está sentindo falta de ar, o nível de
oxigenação já está muito baixo, já está grave", alerta. Profissionais da
atenção primária têm importância estratégica para ajudar a triar e encaminhar
as pessoas precocemente. Outro desafio desse cenário, é "ter
profissionais qualificados para lidar com uma doença nova e com um equipamento
que nunca lidou". "O desafio é a distribuição dos serviços
nos territórios cearenses", analisa Carmem Leitão Araújo, professora do
Departamento de Saúde Comunitária da UFC e coordenadora do Observatório de
Políticas Públicas de Saúde. Ontem, a taxa de ocupação dos leitos de Unidade de
Tratamento Intensivo era de 87,7% no Estado.
Desde
o início da infecção no Estado, o Governo do Ceará abriu 2.139 leitos
exclusivamente para o tratamento de pessoas com Covid-19. Desse total, 627 são
de UTI. Outros
110 leitos serão abertos em hospitais de campanha em Caucaia, Maracanaú e
Quixeramobim. Os municípios de Icó, Iguatu, Crateús, Itapipoca, Maracanaú,
Caucaia, Tianguá, Limoeiro do Norte devem ser beneficiados com a chegada de 200
respiradores da China no último fim de semana.
O POVO