Com
o pai Jocélio da Silva, 62 anos, internado por causa do novo coronavírus, na
Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Bairro Vila Velha, em Fortaleza, Jessé
dos Anjos se recusa a deixar o local, onde tem dormido na calçada da unidade
hospitalar há seis dias e só pretende deixar o local depois que conseguir um
leito de UTI para o pai.
Na
terça-feira (12), Jessé recorreu à Justiça para conseguir uma UTI para o pai e
a 3ª Vara Cível da Comarca de Caucaia determinou que o idoso seja encaminhado
para um hospital público que tenha leito de UTI ou, ainda, um hospital da rede
privada com custos pagos pelo próprio estado. Em nota, a Secretaria da Saúde do
Ceará (Sesa) informou que até o momento não foi notificada do processo judicial
do paciente Jessé de Sousa Silva.
Nesta
quarta-feira (13), Fortaleza ultrapassou a marca de mil pessoas mortas em decorrência
da Covid-19, de acordo com a Secretaria da Saúde (Sesa), somando
1.022 óbitos, além de 13.037 casos da enfermidade. O Ceará, por sua vez,
registrou o recorde de mortes em um período de 24 horas, com outros 109 óbitos
contabilizados desde esta terça-feira (12). Agora são 1.389 pessoas que não
resistiram à Covid-19, com mais 19.156 diagnósticos positivos para a doença.
Com sintomas como moleza, febre e falta de ar há dias,
Jocélio da Silva, segurança aposentado, foi internado na Unidade de Pronto
Atendimento na manhã da última sexta-feira (8). “Eu demorei a levar ele para
internar por medo de não ver mais ele e também porque eu achei que poderia
cuidar em casa. Ele também pediu que não queria ir, mas sexta-feira nós
conversamos e eu o convenci a vir, mesmo com medo”, contou o filho Jessé. O
idoso tem comorbidades como hipertensão, diabetes e é portador de hiperplasia
prostática benigna, o que requer mais cuidado com a sua situação.
Nos
últimos seis dias, em que o pai está internado, a rotina de Jessé conta com
edredom e travesseiro, no chão da calçada em frente a UPA do Vila Velha e
noites mal dormidas. “Quase uma semana acampado aqui, dormindo na calçada do
hospital, vivendo da ajuda de amigos e vizinhos da UPA para poder acompanhar
meu pai na luta contra a Covid-19, durante as 24 horas do dia”, pontua.
“Continuo na batalha e não aceito voltar pra casa sem ele”, frisou.
Necessidade da
UTI
Na
última terça-feira (12), o quadro clínico do segurança aposentado se agravou
por causa de uma complicação respiratória, e desde de então a saga do filho é
na busca por um leito de UTI, para a sobrevivência do pai. De acordo com a
Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa), pela plataforma digital
IntegraSUS, 24 unidades hospitalares estão operando com mais de 80% de ocupação
nas UTIs.
“Não
sei mais o que fazer. Tô pra todo lado correndo esses dias e sem encontrar
saída, pois são muitas viagens em vão, Secretaria de Saúde, hospitais, fórum,
defensoria. Passei o dia de porta em porta, hospital em hospital, e agora eu to
perdido, sem uma luz”, declarou. “Eu estou bastante nervoso ainda, porque eu só
tenho escutado não, em todos os lugares que vou”, disse chorando.
A
gravidade da situação, levou ao Poder Judiciário do estado do Ceará despachar,
na tarde desta quarta-feira, um pedido para leito de UTI para o idoso. “Requer
a sua imediata transferência para hospital público terciário que contenha leito
de UTI e, caso alegue falta de vagas, seja encaminhado para hospital da rede
privada de saúde, às custas do estado do Ceará”, declara o documento da 3ª Vara
Cível da Comarca de Caucaia.
Em
nota, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informou que ainda não foi
notificada do processo judicial do paciente Jessé de Sousa Silva. O órgão
ressaltou que a central de regulação "continua mantendo contato com a UPA
24h no Vila Velha, em Fortaleza, sobre atualização do quadro clínico do
paciente e que está fazendo busca ativa por disponibilidade de leito em
hospital de referência".
G1 CEARÁ