O
presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira, 29, que lamenta, mas não
tem o que fazer em relação ao novo recorde de mortes registradas em 24 horas,
com 474 óbitos, ultrapassando a China no número total de óbitos pelo novo
coronavírus.
"E
daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço
milagre", disse Bolsonaro, em referência ao próprio sobrenome.
Durante
a entrevista em frente ao Palácio da Alvorada, uma jornalista disse ao
presidente: "A gente ultrapassou o número de mortos da China por
Covid-19..." Foi quando Bolsonaro respondeu que não poderia fazer nada.
Ao
saber que a entrevista estava sendo transmitida ao vivo por canais de
televisão, o presidente disse se solidarizar com as famílias das vítimas.
"Mas é a vida. Amanhã vou eu".
Nesta
terça-feira, segundo boletim divulgado pelo Ministério da Saúde, o número de
mortes confirmadas por Covid-19 ultrapassou a marca dos 5 mil, chegando a
5.017. Na China, são 4.643.
O
Brasil alcançou o terceiro lugar entre os países que mais registraram mortes
ontem pela Covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos e do Reino Unido. Na
segunda-feira, o Brasil estava em 6º entre os países com mais mortes
registradas em 24 horas, mas já superou Itália, França e Espanha no balanço
mais recente.
Questionado
se conversaria com o ministro da Saúde, Nelson Teich sobre a flexibilização do
distanciamento social, Bolsonaro afirmou que não dá parecer e não obriga
ministro a fazer nada.
Já
Nelson Teich, em coletiva na noite de ontem, admitiu o agravamento da crise do
novo coronavírus, com a escalada de casos e mortes da Covid-19 em diversas
regiões do Brasil. O ministro silenciou sobre campanha permanente de Bolsonaro
para acabar com medidas de isolamento social.
"Há
alguns dias eu coloquei que (o número de mortos e contaminações) poderia ser um
acúmulo de casos de dias anteriores que foi simplesmente resgatado, mas como
temos manutenção desses números elevados e crescentes, temos que abordar isso
como um problema, como uma curva que vem crescendo, como um agravamento da
situação", disse Teich.
Em
uma declaração de apenas 16 minutos à imprensa, respondendo somente a quatro
perguntas previamente selecionadas, o ministro citou as cidades de Manaus,
Recife, Rio de Janeiro e São Paulo como os locais que mais preocupam. Ele
repetiu que o Brasil tem diferentes quadros da doença, que merecem tratamentos
específicos.
Ao
mesmo tempo em que Teich falava por videoconferência no Ministério da Saúde, em
uma coletiva anunciada às pressas, nem meia hora antes de ocorrer, o presidente
Jair Bolsonaro repetia a apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada, que
deseja o fim das quarentenas no Brasil. Ele disse que tem conversado com
associações da indústria sobre o tema, mas afirmou que quem decide sobre
assuntos de saúde é o ministro.
Teich
reconheceu que a "situação é difícil" e afirmou que o governo federal
trabalha para "dar suporte aos estados e municípios".
O
general Eduardo Pazuello, que será nomeado secretário-executivo do Ministério
da Saúde, afirmou que o País deve priorizar envio de respiradores, leitos e
equipamentos de proteção a locais mais atingidos pelo vírus. "Mudou a
prioridade", disse ele, sem explicar o que efetivamente foi alterado, dado
que o ministério já vinha concentrando esforços, logicamente, nas regiões que
mais precisam de apoio de pessoal, equipamentos e suprimentos.
Mais
cedo, Teich foi cobrado por governadores do Norte sobre atrasos para entrega de
produtos contra a Covid-19. Pazuello disse que 185 respiradores serão enviados
na quarta-feira, 29, a Estados que atravessam um cenário mais difícil neste
momento.
O POVO