Os
três réus condenados por participação ou execução direta na "Chacina do Benfica" recorreram da
decisão do Tribunal do Júri, dada em novembro de 2019, que aprovou a condenação de dois deles pelos
homicídios cometidos e do terceiro pelo crime conexo de organização criminosa.
A
Chacina do Benfica ocorreu há exatos dois anos, na noite de 9 de março de 2018,
em três pontos diferentes do bairro homônimo em Fortaleza: a Praça da
Gentilândia, a Vila Demétrio e o cruzamento das ruas Major Facundo e Joaquim
Magalhães. Sete pessoas foram mortas e outras três ficaram feridas.
A
defesa de Francisco Elisson Chaves de Souza, o único que foi absolvido dos
assassinatos, pediu que a sentença dada pelo Júri fosse anulada. De acordo com
a advogada que assina o pedido, a criminalista Nicole Andrade Furtado, “a única
prova trazida ao processo de que Francisco Elisson integrava a Organização
Criminosa (...) é a confissão em sede inquérito policial”, argumenta no recurso
de apelação.
Segundo
a advogada, para que haja a condenação, é preciso de provas suficientes que
corroborem com o inquérito. Nicole Furtado também requer que o julgamento seja
anulado, pois, conforme sua leitura, o crime de organização criminosa foi
julgado pela Vara do Júri e não pela Vara de Delitos de Organizações
Criminosas, que deveria ser a responsável por absolver ou condenar réus desse
tipo de crime.
Contrarrazões
O
Ministério Público do Ceará (MPCE) apresentou as contrarrazões do recurso e
ponderou que ele é “de manifesta improcedência” e com “premissa equivocada”. O
promotor de Justiça Franke José Soares Rosa afirma que a manifestação da defesa
é inverídica, pois “a condenação encontrou amparo em diversos elementos
probatórios, inclusive os produzidos sobre o crivo do contraditório e da ampla
defesa”.
Segundo
o promotor de Justiça, também é necessário considerar que o Tribunal do Júri
tem obrigação de julgar os crimes conexos aos homicídios, como o de organização
criminosa.
Os
outros dois réus (Douglas Matias da Silva e Stefferson Mateus Rodrigues
Fernandes), cujas defesas são patrocinadas pela Defensoria Pública do Estado
também entraram com recurso, mas ainda não acrescentaram a argumentação a ser
utilizada. Douglas Matias e Stefferson Mateus foram
condenados a 189 e 170 anos, respectivamente, por participação na Chacina do
Benfica. Elisson foi condenado a 4 anos e 10 meses.
Vítima
Uma das vítimas da Chacina do Benfica
foi o jovem Carlos Victor Meneses Barros, de 23 anos. Ele foi morto na sede da
Torcida Uniformizada do Fortaleza (TUF), na Vila Demétrio. A tia dele, Cintya
Sâmia, diz que “ainda é bem difícil aceitar tudo”. “É complicado perder quem a
gente ama, ainda mais da forma que foi”, lamenta.
Segundo
Cintya, no dia em que Victor foi assassinado, ela ainda estava grávida, e ele
seria um dos padrinhos da criança que estava gerando. “Com o nascimento da
minha filha, amenizou um pouco. Não vou dizer que a dor sumiu, mas tem momentos
que ainda é muito difícil”, completa a mulher.
Ao
lembrar do sobrinho, a imagem que ela tem se confunde entre o padrinho que ele
seria e o sobrinho que foi. “O Victor era uma pessoa maravilhosa, um menino
alegre, trabalhador, cheio de sonhos. Ele adorava praia, adorava surfar. Era um
meninão, um homem em forma de menino, uma pessoa super do bem, que morreu de
graça e sem ter nenhum envolvimento com nada”, rememora.
G1 Ceará