O
ex-catador de latinhas e professor que foi selecionado, em 2018, para estudar
na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, foi nomeado embaixador dos
Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). O convite surgiu
quando ele voltou ao Brasil, após ter desenvolvido um projeto de água, energia
e internet renováveis. Próximo ano, ele será enviado à África para colocá-lo em
prática.
De
acordo com Ciswal dos Santos Nascimento, o representante da ONU deve fazer
denúncias quando encontrar problemas, no intuito de solucioná-los. A tarefa,
afirma, gerou um certo desconforto a alguns gestores públicos, que chegaram a
ameaçá-lo.
“Recebi
uma ligação dizendo que não era bom falar sobre os dificuldades enfrentadas em
uma determinada região, pois a administração poderia não gostar. Disse que não
queria saber. Se está errado, temos que denunciar. Fiquei receoso, porque eu
tenho família, mas não posso ceder às ordens dos coronéis”, lembra.
Um
dos objetivos traçados para colocar o projeto em ação era o de torná-lo barato,
para que boa parte da sociedade possa comprar e tirar proveito dos benefícios
que ele dispõe. Antes custando R$ 2.200, com os estudos, poderá ser adquirido
por R$ 987.
Frustrado
por não ter sido apoiado pelo Governo do Estado, nem mesmo pela Prefeitura de
Juazeiro do Norte, Ciswal Nascimento revela que se não fosse a ajuda de algumas
pessoas, não teria conseguido se manter nos Estados Unidos.
“O
governador Camilo Santana foi meu professor na faculdade. Ano passado, fizeram
um evento e colocaram a minha foto como homenagem, mas ninguém me ajudou. Eu
fiquei muito triste com a situação. Imaginei que era questão de tempo, que ia
ser resolvido após o período eleitoral. Tenho muitas ideias, mas não posso
fazer tudo sozinho”, conta.
Uma
empresa japonesa que investe em ideias que podem revolucionar o mundo decidiu
apostar no projeto de energia, água e internet renováveis, que foi desenvolvido
pelo cearense. Em 2020, ele será enviado para Moçambique, Angola, Magala e
Zimbabwe, para colocá-lo em prática.
“Propus
a eles que bancassem uma sala de aula, onde colocaríamos 120 jovens para
treiná-los durante 30 ou 60 dias sobre como montar os equipamentos. Desta
forma, seríamos multiplicadores da ideia”, sustenta.
Experiência
Ao
chegar no Aeroporto Internacional de Boston Logan, Massachusetts, nos Estados
Unidos, Ciswal Nascimento rememora que sentiu muito frio. As matérias
divulgadas na mídia fizeram com que um casal de brasileiros que moram lá
tomassem conhecimento da situação e o ajudasse no até então lugar desconhecido.
“Eles
me convidaram para ficar na casa deles. Foi ótimo, pois me deram todo o
suporte. Eu não sabia nada por lá. Ao total, eram 14 quilômetros de distância
de onde eu estava hospedado até a Universidade de Harvard. Pedi que
conseguissem uma bicicleta emprestada para eu não ficar atrapalhando, e
compraram uma para mim”, pontua.
Ao
reparar no frio incessante do brasileiro, um professor da Universidade de
Harvard deu um casaco da instituição para que o ele se agasalhasse. A
generosidade foi mais além: o docente, vendo que Ciswal Nascimento não tinha o
material didático necessário para acompanhar as aulas, deu um iPad e um chip,
por onde conseguia mandar os conteúdos ao aluno para que ele não se
prejudicasse.
“No
início foi complicado, mas depois me senti um pouco mais à vontade. Os estudos
foram muito proveitosos. Em um dia de aula, absorvi informação de um ano que a
gente estuda aqui no Brasil. A qualidade do ensino, a disciplina e a forma como
as coisas são instruídas funcionam de uma maneira diferente”, admite.
Em
2020, ele voltará aos Estados Unidos para implantar um laboratório de
Tecnologia de Informação e Computação, a convite do professor.
Diário
do Nordeste