Redução
do preço do diesel lança dúvidas sobre a força da estatal para resistir a
pressões; políticos questionam política de Parente na Petrobras.
São Paulo – O presidente da Petrobras Pedro Parente decidiu
ontem reduzir em 10% o preço do diesel, como forma de acalmar os ânimos entre
os caminhoneiros, em greve
há quatro dias. A consequência foi ações despencando na bolsa e a dúvida sobre força da estatal para resistir
a pressões do governo.
A
medida vale por quinze dias. Depois deste prazo, a empresa já afirmou que
retomará sua política de preços, que permite ajustes diários no valor dos
combustíveis. Ontem, Parente fez questão de afirmar que a decisão era
empresarial, sem interferência do governo.
Porém,
a decisão lança dúvidas sobre a independência da estatal para manutenção de sua
política de preços, condição imposta por Parente quando assumiu o comando da
companhia.
“Mais
do que as perdas financeiras, [a redução do preço do diesel] poderia
representar uma mudança na abordagem gerencial da atual política de preços”,
diz relatório da UBS sobre o tema.
A
atual política da Petrobras permite que a estatal ajuste os preços dos
combustíveis diariamente, conforme as mudanças no mercado internacional. Criada
em meados de 2017, ela veio como resposta a uma prática do governo Dilma
Rousseff, que represava os preços dos combustíveis como forma de segurar a
inflação.
Apesar
de aliviar os custos para o consumidor final, a medida petista gerou perdas
importantes à estatal que, somadas às sanções surgidas no âmbito da Operação
Lava Jato, trouxeram à Petrobras um longo período de resultados negativos.
Foram quatro anos seguidos de prejuízos.
Porém,
se de um lado a política de Parente agrada ao mercado, do outro pressiona o
consumidor, como mostra a greve dos caminhoneiros. A alta do petróleo no
mercado internacional tem levado a aumentos quase diários dos combustíveis na
ponta.
Hoje,
Parente vive com um pé na estatal e outro na BRF, onde assumiu o comando do
conselho de administração no mês passado. A empresa, aliás, foi uma das grandes prejudicadas pela paralisação
dos caminhões.
Já
há quem diga que a crise com os caminhoneiros pode ser a deixa para o executivo
deixar a estatal. O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), disse ao Poder360 que irá convidar Pedro
Parente a se explicar no Congresso. O próprio PSDB, partido ao qual Parente é
filiado, acredita que o presidente da estatal exagerou no remédio.
Seja
qual for o desfecho, o momento é de tensão na Petrobras.
Fonte: Exame