A
tripulação do voo 2933 da Lamia falou do risco de ficar sem combustível mais de
duas horas antes de o avião cair, aponta o relatório final divulgado nesta
sexta-feira (27) pela Aeronáutica Civil da Colômbia. A falta de combustível foi
a causa para o acidente, no qual 71 pessoas morreram; a maior parte delas
integrava a delegação da Chapecoense.
"Está
f* a coisa", diz o comandante Miguel Quiroga, oficialmente um dos donos da
Lamia, às 19h37, horário da Colômbia, segundo a transcrição da caixa-preta. Ele
se referia à preocupação de não conseguir ter combustível suficiente para
chegar a Bogotá, que fica antes de Medellín --o destino do voo. O controle de
tráfego aéreo foi informado de falta de combustível, efetivamente, às 21h49 --o
acidente se deu dez minutos depois, às 21h59 de 28 de novembro, segundo o
relatório.
A
primeira referência ao combustível aparece às 18h20, pouco mais de uma hora
após a decolagem. "Isso está grave", diz o copiloto Ovar Goytia.
"Temos que subir", responde o comandante. Voar mais alto permite
poupar combustível. As menções à quantidade de combustível aparecem em todo o
voo, a ponto de a tripulação cogitar fazer uma escala para abastecer em Bogotá
ou em Letícia, esta na fronteira com o Brasil.
Outras
das conclusões foi que, 40 minutos antes do acidente, a aeronave já estava em
emergência por falta de combustível e a tripulação nada fez, mesmo tendo
indicação na cabine, como luz vermelha e avisos sonoros.
Os
investigadores chegaram a essa conclusão ao analisar a caixa-preta, que contém
gravadores de dados de voz e de voo.
A
investigação concluiu também que o avião tinha 2.303 quilos de combustível a
menos do que deveria levar para a viagem. Segundo as normas internacionais, um
voo deve ter combustível para chegar ao aeroporto de destino, mais o suficiente
para um aeroporto alternativo, caso haja problemas, e ainda mais 30 minutos de
reserva.
O
mínimo para cumprir os regulamentos internacionais naquele voo era um total de
11.603 quilos de combustível, segundo a investigação. Mas a aeronave da Lamia
tinha apenas 9.300 quilos de combustível.
Sem
escala
O
avião da empresa Lamia caiu levando a delegação do time catarinense no dia 28
de novembro de 2016, deixando 71 mortos. A investigação confirma que o
combustível do avião era insuficiente para o voo entre Santa Cruz, na Bolívia,
e Medellín, na Colômbia.
O
acidente ocorreu por esgotamento de combustível como consequência da falta de
gestão de risco apropriada pela Lamia, afirmou a autoridade de aviação civil
colombiana, que classificou a situação como algo "inconcebível de
acontecer".
Sem
o combustível, os motores pararam de funcionar e o avião planou até bater.
Entre
as principais conclusões apresentadas na Colômbia, estão:
40
minutos antes do acidente, o avião já estava em emergência e a tripulação nada
fez. Houve indicação, luz vermelha e avisos sonoros, na cabine. "A
tripulação descartou uma aterrisagem em Bogotá ou outro aeroporto para
reabastecer", diz o documento.
o
controle de tráfego aéreo desconhecia a "situação gravíssima" do
avião.
o
contrato previa escala entre Santa Cruz e o aeroporto de Medellín, mas a
empresa planejou voo direto.
a
Lamia estava em situação financeira precária e atrasava salários aos funcionários.
A empresa sofria de desorganização administrativa.
a
Lamia não cumpria determinações das autoridades de aviação civil em relação ao
abastecimento de combustível. Quando foi apresentado o relatório preliminar, já
havia sido destacado que o piloto estava consciente de que o combustível que
tinha não era suficiente. O piloto, Miguel Quiroga, “decidiu parar em Bogotá,
mas mais adiante mudou de ideia e foi direto para Rionegro", onde o avião
caiu.
Entre
as recomendações apontadas no documento, a Colômbia deve melhorar controles
sobre voos fretados.
A
Aeronáutica Civil colombiana reforçou que o relatório final não se destina a
apontar culpados para que sejam punidos, mas esclarecer as circuntâncias do
acidente para permitir que sejam adotadas medidas preventivas que evitem novos
acontecimentos como o da tragédia da Chape.
O
relatório final conta com dados que o preliminar não tinha, como a análise das
caixas pretas e documentos relativos à situação da empresa.
G1