| INTERIOR DO CEARÁ | Um mês após massacre que
deixou dez mortos em Itapajé, cadeias públicas são reorganizadas para manter
apenas um facção por unidade
Superlotação, unidade prisional com serviço
precarizado de segurança e facções criminosas em ebulição convivendo em um
único espaço. Esses foram os ingredientes que, há um mês, levaram à chacina na
Cadeia Pública de Itapajé, a 124 km de Fortaleza. O massacre iniciou-se na
manhã do dia 29 de janeiro — apenas dois dias após a chacina com 14 mortos no
bairro Cajazeiras, na Capital — e terminou com dez homens entre 19 e 37 anos
assassinados e oito feridos. A matança aprofundou a crise das forças de
Segurança do Ceará e tem intensificado mudanças nas cadeias do Interior do
Estado.
A Secretaria da Justiça e Cidadania (Sejus) afirma
que, por medida de segurança, não divulga informações sobre como está
estabelecida a organização dos internos nas unidades prisionais.
“Itapajé era uma bomba-relógio pronta a explodir a
qualquer momento. O que a Sejus tem feito é impedir que em determinada comarca
mantenham-se facções diferentes. Naquela localidade onde a facção é
predominante, a cadeia fica exclusiva daquela facção”, explica o advogado e
presidente do Conselho Penitenciário do Estado do Ceará (Copen), Cláudio Justa.
O fatiamento das grandes unidades prisionais do
Estado por facções já é realidade desde 2017, mas se aprofunda, de acordo com
Justa, também no Interior do Estado como forma de sanar conflitos.
No Interior, sem que as cadeias tenham capacidade
estrutural para separação por alas de encarcerados que se identificam com
facções divergentes, a solução tem sido colocar presos para cumprir penalidades
longe das comarcas em que foram condenados.
Publicado no O POVO ontem, documento exclusivo
revelou que 69 das 130 unidades prisionais do Ceará encarceram apenas uma das
facções como medida de prevenção de rebeliões. Comando Vermelho (CV), Guardiões
do Estado (GDE), Primeiro Comando da Capital (PCC) e Família do Norte (FDN)
somam, juntas, um efetivo de 18.667 membros, distribuídos dentro de cadeias
públicas e presídios do Estado. O número representa 65,9% da população
carcerária cearense flutuante.
No dia da chacina, a Cadeia Pública de Itapajé
funcionava com 87 presos, quase três vezes a capacidade da unidade, e apenas um
agente penitenciário. Um mês depois, a Sejus informou que 30 pessoas estão
recolhidas nesse local, já que após o massacre 48 detentos foram transferidos e
não retornaram à cadeia da cidade.
O número atual corresponde à capacidade da unidade
prisional. Questionada se o número de agentes penitenciários aumentou após a
ocorrência, a Sejus informou que se manteve. “Esse efetivo só deve ser
aumentado com a conclusão do concurso para mil novos profissionais”, reforçou.
“Os internos feridos, os que permaneceram na
unidade e seus familiares receberam apoio de assistentes sociais e psicólogos
da Secretaria”, informa pasta, por meio de nota.
INDICIADOS PELO MASSACRE NA CADEIA
Alex Pinto Oliveira Rodrigues, 24;
Antônio Jonatan de Sousa Rodrigues,
22;Artur Vaz Ferreira, 26;
Francisco das Chagas de Sousa, 24;
Francisco Idson Lima de Sales, 19;
William Alves do Nascimento, 20;
Murilo Borges Araújo, 25.
VÍTIMAS DA CHACINA DE ITAPAJÉ
Alex Alan de Sousa Silva, 19;
Francisco Mateus da Costa Mendes, 19;
Francisco Davi de Sousa Mesquita, 19;
Caio Mendes Mesquita, 19;
William Aguiar da Silva, 20;
Carlos Bruno Lopes Silva, 27;
Francisco Elenilson Sousa Braga, 33;
Francisco Elder Mendes Miranda, 35;
Manuel da Silva Viana, 37;
Francisco Emanuel de Sousa Araújo (idade não
revelada).
NÚMEROS
30
Pessoas é a capacidade da Cadeia Pública de
Itapajé, segundo Sejus. No dia da chacina, unidade tinha 87 presos
130
Unidades prisionais existem no Ceará. Deste total,
69 encarceram membros de apenas uma facção
DOMITILA ANDRADE
O Povo Online