Governador
Camilo Santana cobra do Governo Federal suporte no enfrentamento às facções,
mesmo afirmando ter o controle da segurança pública do Estado. Ministério da
Justiça responde cedendo equipes para a investigação
“O Governo Federal tem que cumprir sua
responsabilidade. Não produzimos arma no Ceará, não produzimos droga”. Embora a
afirmação tenha sido feita ontem à tarde, 28, pelo governador Camilo Santana
(PT), não é de agora que o petista critica diretamente a União a respeito do
combate ao crime organizado. Contudo, só depois que o governador reforçou o
posicionamento em coletiva à imprensa sobre força-tarefa estadual para
investigar crimes associados às facções, o ministro da Justiça, Torquato
Jardim, decidiu responder. Em nota divulgada à noite, o Ministério “devolveu a
responsabilidade” sobre a segurança pública para o Estado, mas se comprometeu a
dar suporte técnico.
A resposta do ministro acompanhou a repercussão da
maior chacina da história do Ceará, que vitimou pelo menos 14 pessoas na
madrugada do último sábado, no bairro Cajazeiras, periferia de Fortaleza. Para
contribuir na investigação e no compartilhamento de informações de
inteligência, o Ministério da Justiça anunciou o envio de equipes da Secretaria
Nacional de Segurança Pública (Senasp), Polícia Federal, Polícia Rodoviária
Federal (PRF) e do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
A União, segundo Torquato Jardim, “seguirá
cumprindo o papel de oferecer apoio técnico e financeiro aos estados, como vem
fazendo regularmente, para que os órgãos de segurança pública trabalhem de
forma integrada e harmoniosa, ainda que os governantes não solicitem apoio por
razões eminentemente políticas”.
Horas antes do posicionamento do ministro, Camilo
chegou a dizer, em entrevista coletiva na sede da Secretaria da Segurança
Pública e Defesa Social (SSPDS), que havia solicitado audiência com o
presidente Michel Temer (PMDB) para cobrar ações mais efetivas do Governo
Federal no enfrentamento ao tráfico de drogas e na proteção das fronteiras do
País.
Na mesma ocasião, o governador afirmou ter pleno
controle da segurança pública do Ceará — “O controle é e sempre será do Estado”
— e anunciou três estratégias para combater as facções criminosas.
A primeira ação, que deve ser posta em prática a
partir de hoje, reúne instituições de Justiça e Segurança em espaços físicos
integrados para consolidar informações e agilizar tomada de decisões.
A segunda medida é a criação de vara judicial
específica para julgar crimes relacionados às facções. A terceira recorre ao
suporte de inteligência da Polícia Federal
Apresentado por Camilo como força-tarefa em resposta
à chacina de Cajazeiras, o plano de integração vinha sendo discutido
institucionalmente antes mesmo do massacre. O POVO apurou que tanto a Polícia
Federal quanto o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) já negociavam com o
Governo estratégias próprias para apoiar o combate ao crime organizado.
No sábado, 27, quando a chacina do bairro
Cajazeiras foi noticiada como sendo a maior da história do Ceará e a segunda
registrada este ano, o titular da SSPDS, André Costa, classificou a matança
como “um evento isolado”.
Mesmo que não tenha atribuído a autoria do massacre
a nenhuma facção criminosa em específico para não atrapalhar as investigações,
que permanecem em andamento, o governador tentou ponderar o posicionamento do
secretário afirmando, ontem, que a chacina ocorreu de forma selvagem,
lamentável e desumana, tendo ultrapassado todos os limites. “Inaceitável”,
definiu Camilo.
MINISTÉRIO, EM NOTA:
“O reforço tem objetivo de propiciar aos órgãos de
segurança do Estado que atuem para reprimir de forma exemplar a ação de grupos
criminosos envolvidos na chacina do último sábado”
LUANA SEVERO
Fonte: O Povo