Segundo a PF, três delegados, três inspetores e 10
escrivães da Divisão de Combate ao Tráfico são investigados. Armas e drogas
foram apreendidas.
Seis pessoas - entre elas, dois policiais civis -
foram presas em flagrante nesta quarta-feira (6) durante uma operação da
Polícia Federal que investiga um suposto esquema criminoso de tráfico, extorsão
e corrupção realizado por agentes da Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas
(DCTD), da Secretaria de Segurança Pública do Ceará. Ao todo, segundo a PF,
três delegados, três inspetores e 10 escrivães da delegacia especializada são
investigados. Pessoas que não são agentes públicos e colaboraram com o esquema
também são investigados.
Dos três delegados investigados na operação, dois
foram afastados dos cargos: Patrícia Bezerra, diretora da Divisão de Combate ao
Tráfico de Drogas; e Lucas Aragão, delegado-adjunto da Divisão. A terceira
delegada, Ana Cláudia Nery, teve busca, condução coercitiva e remoção
compulsória, ou seja, foi transferida - por decisão judicial - para outro
setor, na área administrativa.
O advogado Leandro Vasques, que representa os três
delegados investigados, disse - por meio de nota - que somente irá se
pronunciar após obter cópia integral do inquérito, mas afirma que não há
qualquer comprometimento de nenhum dos delegados da polícia civil em nenhum
ilícito.
"Certamente está havendo um grave equívoco de
interpretação. Os três delegados não tem uma nódoa sequer em suas vidas
funcionais, possuem passado inatacável, de modelares ações. Não podemos admitir
acusações genéricas como as que aparentemente motivaram a presente
Operação...reputações são dilaceradas, biografias de vida são vilipendiadas...lamentável
estar presenciando a tudo isso", afirma o Leandro Vasques.
Afastamento
Dez agentes da Polícia Civil foram afastados das
funções e outros seis foram removidos para atuação em funções administrativas.
A PF também não divulgou os nomes nem os cargos dos suspeitos que sofreram as
medidas administrativas. Após a operação, o titular da Secretaria da Segurança
Pública, delegado André Costa, anunciou a mudança no comando da DCTD.
A Operação Vereda foi deflagrada na manhã desta
quarta-feira (6), com a atuação de 150 policiais civis e o apoio de agentes da
Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Foram 27 mandados de
busca e apreensão, 25 mandados de condução coercitiva (quando o investigado é
levado para depor) e 10 mandados de afastamento de funções, com recolhimento
das armas e identidades funcionais.
Além dissso, foram apreendidos, durante a operação,
R$ 340 mil em espécie, cédulas falsas, armas e aparelhos celulares. Todo o
material está sendo examinado pela pericia técnica cientifica da PF.
Segundo o delegado federal Gilmar Santos Lima, que
conduziu as investigações, um grupo de policiais lotados na DCTD é suspeito de
receber dinheiro de um homem que traficava substâncias anabolizantes de outros
países para o Ceará. Os suspeitos são investigados, de acordo com suas
participações, pelos seguintes crimes:
Comercialização ilegal de anabolizantes;
Peculato (apropriação ilegal de recursos públicos);
Concussão (vantagem indevida exigida por servidor
público);
Corrupção passiva (solicitar ou receber vantagem);
Associação criminosa;
Falsificação de moeda;
Tráfico de drogas.
CGD
Em nota, a Controladoria Geral de Disciplina (CGD)
informa que já tomou as providências para instauração dos procedimentos
disciplinares e que foi solicitado, à Polícia Federal, cópia do inquérito
policial e o compartilhamento das investigações para a devida apuração na seara
disciplinar. A CGD diz, ainda, que se comprovado o envolvimento dos policiais,
a punição poderá culminar até com a demissão dos mesmos.
Delação e suspeito assassinado
O delegado Gilmar Santos informou que a Polícia
Federal iniciou as investigações em 2016, quando o traficante foi preso e
procurou o Ministério Público Federal (MPF) para um acordo de delação premiada.
O preso contou aos investigadores que os agentes cobravam dinheiro para evitar
a prisão.
"Os policiais envolvidos e os criminosos
faziam acordos para livrar os flagrantes com o pagamento de valores. Os valores
eram pagos para que não fossem registrados inquéritos, não houvesse o processo
policial. Durante a investigação, foram pedidas medidas cautelares e através de
escutas telefônicas conseguimos identificar a conduta de cada pessoa
envolvida".
Santos afirmou que, além dos 16 agentes civis da
DCTD, também são alvos da operação 9 pessoas que não são policiais. Um dos
suspeitos, que não era policial, foi assassinado no último fim de semana. A
polícia investiga essa morte.
Durante a Operação Vereda, a Polícia Federal
prendeu dois policiais e uma outra pessoa que colaborava com o esquema. Foram
apreendidos drogas, dinheiro falso, arma, munição, dentre outros objetos. O
delegado disse que a investigação segue em andamento, agora com a análise do
material apreendido.
A sede da Divisão de Combate ao Tráfico esteve
fechada durante a manhã desta quarta-feira. O G1 acompanhou, do lado de fora, a
movimentação de policiais federais que estiveram na delegacia realizando buscas
durante a ação. Carros da Polícia Federal também estavam estacionados no local.
Policiais civis que chegaram para trabalhar não puderam entrar na unidade e
retornaram.
Medidas administrativas
O delegado-geral da Polícia Civil, Everardo Lima,
disse que a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública
vai instaurar um processo administrativo para investigar a conduta dos
policiais civis alvos da operação. Ele disse que o objetivo agora é restaurar a
imagem da Divisão de Combate ao Tráfico.
"Teremos que aguardar o devido processo legal,
pois terá a investigação. Já sabemos da isenção da PF. Após o devido processo
legal, vai se aguardar a condenação ou absolvição. A partir de agora, é preciso
tratar de recuperar os danos para que a Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas
não sofra nenhuma ação de descontinuidade. A divisão vai receber novos
policiais para repor o efetivo", afirmou o delegado.
Fonte: G1