O apresentador Luciano Huck, da Rede Globo, assina
artigo na Folha de S. Paulo desta quarta-feira. Ele admite entrar na política.
Confira:
O maior bem de uma sociedade livre e
verdadeiramente democrática é o direito de cada um expressar sua opinião. Elas
variam. Os fatos não.
Tenho pensado, lido, refletido e ouvido muita gente
sobre os melhores caminhos para tirar o Brasil desta triste situação em que nos
encontramos. Os caminhos divergem, mas nunca vi tanta gente genuinamente
empenhada em contribuir e se envolver.
Como já me comprometi publicamente antes, quero e
vou participar deste processo de renovação política no Brasil.
Reafirmo que continuo achando que, de onde estou,
fora do dia a dia da política, minha contribuição pode ser mais efetiva e
relevante.
Acredito que esta fratura exposta que comprometeu,
expôs e derreteu a estrutura política nacional arrastou a todos nós —sem
discriminar crenças, ideologias ou situação social— para uma crise econômica e
caos social sem precedentes.
Mas também sinto que ela pode ser uma das maiores
oportunidades para abrir um novo ciclo na história da República, ressignificar
nossas instituições e, principalmente, reorientar os valores e princípios
daqueles que querem servir.
Assim, para que no futuro não tenhamos mais os
assustadores vácuos de liderança que hoje estamos vivenciando, este deserto de
opções relevantes e a escassez de projetos e ideias oxigenadas e possíveis
dentro das estruturas formais do poder, para fazer do Brasil um país mais
justo, entendo que o melhor caminho será “ocupar”, por meio do voto, o Legislativo
brasileiro com cérebros, sinapses, ideias e ideais de primeira qualidade.
O dia em que a Câmara dos Deputados e o Senado
Federal forem compostos, em sua maioria, por pessoas íntegras, éticas,
genuinamente bem-intencionadas e comprometidas com o bem comum,
independentemente das suas ideologias, as soluções para as questões do país
florescerão. O debate será de qualidade, as ideias idem.
Dali sairão líderes relevantes, presidentes da
República, gabinetes e políticas públicas que sejam viáveis e transformadoras
de verdade.
Essa “ocupação”, porém, não será do dia para a
noite. Será um longo e árduo processo, que pode até ser retardado, refreado
pelos atuais detentores do poder político -que hoje, salvo exceções, legislam
em causa ou defesa própria.
Mas é um processo irreversível, simplesmente porque
o eleitor há muito não se sente representado por grande parte da classe
política que está aí. Como já disse, há exceções, claro, mas são a minoria
absoluta.
Por isso, quero contribuir na construção dessa nova
realidade representativa. Nós, sociedade civil, temos de ajudar a abrir
espaços, levantar a bandeira da renovação, encorajar cidadãos bem-intencionados
e bem preparados a se candidatar e mobilizar a sociedade para que trate o voto
como a melhor arma de transformação. Não há outra.
Assim, quero e vou apoiar movimentos cívicos de
curadoria e fomento. Movimentos que incentivem a participação política do
cidadão comum, que contribuam para a elaboração de propostas que deem um novo
rumo ao país.
Movimentos como o Agora, em que profissionais
respeitados e competentes das mais variadas áreas de atuação, todos com vocação
pública e experiência, estão se mobilizando para criar uma onda positiva de
engajamento, escuta popular e lançamento de candidaturas alternativas ao que
temos por aí.
Como membro, quero contribuir para o debate,
aprender e trocar ideias com as boas cabeças que ali estarão orbitando.
Um movimento para impactar a agenda pública e a
ação política a partir de cidadãos comuns.
Ou o Renova Brasil, um grupo diverso de
empresários, intelectuais, empreendedores, gestores e profissionais liberais,
que se articularam para criar um fundo cívico de fomento e apoio à formação de
novos políticos, novas lideranças.
Um grande funil ético em que qualquer um que queira
buscar recursos, aprendizado, formação técnica, apoio à concepção de políticas
públicas –independentemente de ideologias, bandeiras, partidos– encontre apoio.
Basta ser ético e comprometido com o bem comum.
Acredito nesses movimentos. E não só neles. A
renovação política passa por eles, não importa se de esquerda, direita, centro.
Tanto faz. Temos que melhorar o nível do debate, do compromisso da população
com seu destino.
Ética e altruísmo não têm cor nas suas bandeiras.
LUCIANO HUCK
Apresentador de TV e empresário.