O
discurso do ex-governador e pré-candidato do PDT à Presidência da República,
Ciro Gomes, fortalece ainda mais a aliança com o PT para reeleger o Governador
Camilo Santana em 2018 e deixa claras evidências de que o bloco partidário de
situação não tem espaços para receber antigos aliados que hoje estão na
oposição.
O recado tinha endereço certo: o
presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB), que, no próximo ano, poderá
concorrer à reeleição ou mesmo disputar o Palácio da Abolição. A entrada do
PMDB em uma possível coligação com PT e PDT criou reação entre os correligionários
dos irmãos Ferreira Gomes. O porta voz do grupo é o presidente regional do PDT,
deputado federal André Figueiredo, que, em algumas ocasiões, desdenhou da
possibilidade de acordo com o peemedebista.
O discurso de Ciro Gomes na convenção
regional do PDT, nessa quinta-feira, deixou elementos para interpretações dos
analistas que acompanham os bastidores da política cearense: Camilo fez elogios
a Ciro, a quem atribui a responsabilidade de fazer grandes transformações
sociais no Brasil, encheu de adjetivos o sentimento de carinho, respeito e
lealdade pelo irmão Cid Gomes e, em suas palavras para os pedetistas, os
agradecimentos pelo apoio que recebe para administrar o Estado.
O gesto de Camilo Santana foi bem
retribuído por Ciro Gomes que o enalteceu pela competência e pela coesão do
grupo político que os permite deixar as contas do Estado equilibradas, com
salários dos servidores em dia, mesmo com o Ceará enfrentando seis anos de seca
e as conseqüências da crise econômica no País. O presidenciável do PDT
destacou, ainda,
que, enquanto Camilo conduz o Governo
com contas em dia, estados ricos – como São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do
Sul e Rio de Janeiro, deixaram, em algum momento, de pagar as dívidas com a
União e com fornecedores e atrasaram ou continuam atrasando salários.
Os elogios a Camilo foram estendidos ao
presidente da Assembleia Legislativa, Zezinho Albuquerque, amigo e aliado leal
de todos os momentos da família Ferreira Gomes. A Zezinho, Ciro destacou a
liderança dentro do Legislativo que garante ao Governo Camilo o apoio da
maioria dos 46 deputados estaduais. Zezinho exerce, atualmente, o terceiro
mandato como presidente da Assembleia Legislativa.
Com o discurso, Ciro desenhou, para quem
quisesse ouvir, a chapa ao Governo do Estado para 2018: Camilo, governador,
Zezinho, vice-governador. As declarações fazem parte do ritual de uma
estratégia definida parra afastar especulações, pressões e, principalmente,
deixar fora da aliança determinados espertalhões que tentam, segundo Ciro,
tirar proveito da boa vontade de Camilo Santana. Ciro não nominou quem seriam
os espertalhões.
ALIANÇAS E ROMPIMENTOS
Eunício, Cid e Ciro se aliaram em 2006 e
conquistaram o Governo do Estado. A aliança foi ampliada em 2010 com a eleição
de Eunício ao Senado. As duas eleições foram embaladas pela popularidade do
então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O grupo se dividiu em 2014 e
aprofundou divergências em 2016 na disputa pela prefeitura de Fortaleza. O
aliado Roberto Cláudio ganhou a disputa pela reeleição contra o capitão Wagner,
apoiado por Eunício, Tasso Jereissati e Lúcio Alcântara.
Depois de muitos conflitos, o senador
Eunício Oliveira e o governador Camilo Santana se aproximaram a partir de uma
agenda administrativa para garantir verbas do Governo Federal para o Estado do
Ceará. Entre o segundo semestre do ano
passado e os 10 meses deste ano, foram,
pelo menos, quatro encontros em Brasília para discutir a canalização de
recursos da União para obras da Transposição de Águas do São Francisco,
Cinturão das Águas, construção e manutenção de unidades de saúde e Metrofor. Os
encontros deram margem para os primeiros passos no sentido de uma futura
reaproximação política.
A leitura sobre a formação de um
palanque com Camilo, Cid e Eunício provocou reação entre aliados dos
governistas e oposicionistas. Mesmo, assim, Eunício foi firme: enquanto estiver
representando o povo cearense em Brasília, fará, independente de partido
político, esforço para o Estado e os Municípios receberem recursos e obras do
Governo Federal.
A convenção regional do PDT pode ter
sido o começo para sepultar os primeiros movimentos na construção de uma aliança
com o PDT. Os discursos entre as lideranças do PDT deixam, também, um claro
recado para a oposição se manter viva e, a exemplo do que aconteceu nesta
semana, definir os próximos caminhos para reaglutinar PMDB, PSDB, SD, PSD, PMB
e PR. O sentimento entre as lideranças do PDT é de chapa pura e fortalecimento
do grupo que está no Poder.