O Tribunal de Justiça do Estado do Ceará informou
que os adolescentes suspeitos do espancamento coletivo seguido de execução que
vitimou a travesti Dandara, estão internados em centros socioeducativos da
Capital
Quatro adolescentes suspeitos do caso de
espancamento coletivo seguido de execução, que vitimou a travesti Dandara dos
Santos, no dia 15 de fevereiro, foram apreendidos e seguem internados em um
centro socioeducativo. As informações são do Tribunal de Justiça do Estado do
Ceará (TJCE). O órgão confirmou que os adolescentes estão internados
provisoriamente por 45 dias. Já os adultos seguem foragidos.
De acordo com o órgão, os pedidos de internação dos
adolescentes foram realizados pela Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA),
na sexta-feira, 3, pela delegada Arlete Silveira. Segundo a Coordenação das
Varas da Infância e Juventude do Fórum Clóvis Beviláqua, não foi despachado
imediatamente, pois houve a necessidade de ouvir o Ministério Público do Estado
do Ceará, por se tratar de adolescentes, como determina o Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA).
O mandado de internação foi expedido no sábado, 4,
pelo juiz Epitácio Quezado Cruz Júnior, somente quando chegou o pedido do MP.
Demora
O POVO apurou que os pedidos de prisão dos adultos
suspeitos do caso que vitimou a travesti Dandara dos Santos demoraram mais de
10 dias para serem apreciados pela Justiça.
Conforme a fonte, a investigação começou por meio
do 32º DP (Bom Jardim), que tem como titular do delegado Bruno Ronchi, com o
apoio de uma inspetora da Polícia Civil, do 12º DP (Conjunto Ceará), que era
amiga de infância de Dandara e obteve a identificação de suspeitos.
Como haviam adolescentes envolvidos, a delegada
Arlete Silveira, também atuou na investigação. Os pedidos de prisão foram
realizados pelo delegado Bruno e os de internação foram da delegada Arlete, que
trabalharam em conjunto.
Os pedidos de prisão dos adultos suspeitos do crime
foram realizados no dia 23 de fevereiro pelo 32º DP e expedidos somente ontem
(6). O TJCE foi procurado pelo O POVO por volta das 19 horas, mas devido o
horário de funcionamento do fórum, foi repassado que o órgão iria se pronunciar
hoje sobre a demora.
A Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP),
que, inicialmente, realizou os primeiros levantamentos no local de crime
constatou também que Dandara foi baleada. Depois da repercussão do caso, a
Especializada também deu apoio no caso.
O POVO opta por não divulgar o número de pessoas
que ainda faltam ser presas ou apreendidas, para não prejudicar as
investigações da Polícia Civil.
Invisível
Apesar de ser a única pessoa morta em Fortaleza no
dia 15 de fevereiro, Dandara ficou invisível para a sociedade, o crime não
gerou repercussão, até a viralização do vídeo do crime nas redes sociais.
Segundo consta no resumo das principais ocorrências
atendidas pelas vinculadas da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social
(SSPDS), Dandara é identificada como Antônio C.F.V. No dia 15 de fevereiro somente
esse caso foi registrado na Capital, às 15h30min. No relatório a causa da morte
é “a outros”, não é descrito se houve tiro ou espancamento. O local do crime é
na Rua Manoel Galdino, Bom Jardim (Área Integrada de Segurança 2). Ainda no
relatório é informado que os suspeitos não foram identificados.
Após a divulgação do vídeo nas redes sociais,
autoridades se pronunciaram sobre o caso, entre elas, o governador do estado do
Ceará, Camilo Santana (PT), o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio e o coordenador
da Diversidade Sexual de Fortaleza, Paulo Diógenes.
O delegado Bruno Ronchi, em entrevista divulgada no
sábado, 4, disse que o caso é caracterizado pela transfobia. A motivação do
crime tem outras linhas de investigação da Polícia Civil, mas a causa e a
continuidade das atitudes é considerada transfóbica.
Repercussão
Artistas repercutiram a morte de Dandara de forma
nacional, ontem, por meio das redes sociais. A atriz Leandra Leal, por exemplo,
expressou indignação com o caso. “Fiquei sem ar com o crime que tirou sua vida.
Um crime que acontece com tanta frequência no Brasil. Somos donos da vergonhosa
estatística de País que mais mata travestis, transexuais, gays e bissexuais no
mundo”, frisou Leandra.
Silvero Pereira, ator e diretor teatral, exibiu
vídeo ao vivo no Facebook, já assistido por mais de 2 mil pessoas. Ele, autor
da peça BR-Trans, ressalta o fato de que o crime aconteceu em momento de
discussão social mais acalorada sobre o respeito aos direitos da população
LGBTs, (Lucas Mota)
JÉSSIKA SISNANDO
Fonte: O Povo