A investigação é a primeira aberta desde que
começou a ser divulgado que delatores da Lava Jato citaram irregularidades na
obra
São Paulo – A Promotoria de Defesa do Patrimônio
Público do Ministério Público de Minas Gerais investiga suspeitas de fraude à
licitação nas obras da Cidade Administrativa de Minas Gerais, a mais cara da
gestão Aécio Neves (PSDB/2003-2010) no governo do Estado.
O inquérito civil público foi aberto em setembro do
ano passado após vir à tona que o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro citaria em
delação premiada na Operação Lava Jato o pagamento de propina de 3% do valor do
empreendimento – que ficou em R$ 1,2 bilhão – a um dos principais auxiliares do
tucano, o empresário Oswaldo Borges da Costa Filho.
A investigação é a primeira aberta desde que
começou a ser divulgado pela imprensa que delatores da Lava Jato citaram
irregularidades na obra.
A portaria de abertura do inquérito aponta para
“supostas irregularidades referentes às obras da Cidade Administrativa de Minas
Gerais, consistentes no pagamento de vantagem indevida pela empresa OAS, uma
das participantes de um dos consórcios responsáveis pelo empreendimento, a
Oswaldo Borges da Costa Filho, então presidente da Codemig, órgão estatal que
realizou o correspondente procedimento licitatório”.
A negociação da delação de Léo Pinheiro foi
suspensa pela Procuradoria-Geral da República no ano passado após a revista
“Veja” divulgar que o empreiteiro – condenado a 26 anos por corrupção e lavagem
de dinheiro – teria citado o ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli.
O episódio envolvendo a obra, contudo, deve
aparecer também na delação premiada de executivos da Odebrecht, homologada pelo
Supremo Tribunal Federal no começo do mês.
Segundo o site Buzzfeed, a Procuradoria-Geral da
República vai instaurar um novo inquérito contra o tucano no Supremo por
suspeita de recebimento de valores supostamente desviados das obras da Cidade
Administrativa com base na colaboração da empreiteira.
Enquanto isso, o Ministério Público mineiro também
apura o episódio envolvendo a licitação do centro administrativo, que já foi
alvo de outro inquérito em 2007, quando foi lançada a licitação.
Na época, o consórcio formado pela Construcap
(CCPS) – Engenharia e Comércio S/A, Convap Engenharia S/A e Construtora Ferreira
Guedes S/A que participou do certame, entrou com uma representação no
Ministério Público questionando o procedimento licitatório da Codemig e todos
os membros integrantes da comissão especial responsável do órgão pela obra.
O consórcio da Construcap acabou sendo derrotado na
licitação, dividida em três lotes. Camargo Corrêa, Santa Bárbara e Mendes
Júnior formaram o lote um. Odebrecht, Queiroz Galvão e OAS compunham o segundo
consórcio e as construtoras Andrade Gutierrez, Via Engenharia e Barbosa Mello,
por fim, o terceiro lote de empresas.
A investigação com base na denúncia das empresas
derrotadas acabou sendo arquivada em 2014, mas está sendo novamente analisada
com as novas delações decorrentes da Operação Lava Jato.
‘Oswaldinho’
Além disso, não é a primeira vez que o nome de
Oswaldo Borges da Costa, conhecido como Oswaldinho, aparece relacionado ao
tucano. Apontado como tesoureiro informal de Aécio, o nome do empresário
aparece em trocas de mensagens no celular do ex-presidente da Andrade Gutierrez
Otávio Marques de Azevedo no mesmo dia em que a empresa fez uma doação para a
campanha do tucano, em 2014.
Em depoimento na ação que pede a cassação da chapa
Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral, Otávio admitiu que todas as doações
eleitorais saíam do mesmo caixa da empresa e, em relação ao PSDB, confirmou que
se encontrou com Oswaldo para tratar da doação registrada na Justiça Eleitoral.
Em 2014, segundo dados declarados à Justiça
Eleitoral, a Andrade doou R$ 21 milhões para a campanha de Dilma e R$ 20
milhões para a de Aécio.
Oficialmente, o coordenador financeiro de Aécio foi
o ex-ministro José Gregori. Em nota quando as mensagens da Andrade vieram à
tona, o PSDB informou que Borges da Costa atuou na campanha de 2014 “apoiando o
comitê financeiro”.
Vitrine
Principal vitrine do governo Aécio em Minas, a
Cidade Administrativa ocupa 804 mil metros quadrados, sendo 265 mil metros de
área construída. O centro é formado pelo Palácio do Governo – com 146 metros de
vão livre, considerado o maior vão suspenso do mundo -, dois edifícios em curva
de 15 andares que abrigarão as secretarias, auditório, centro de convivência,
praça cívica e lagos.
A obra foi contratada por R$ 949 milhões pela
Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemig), mas seu custo final,
incluindo reajustes e intervenções complementares, como obras complementares no
entorno, já passou de R$ 1,2 bilhão em recursos públicos.
Outro montante significativo foi gasto na
contratação de serviços. Somente com mobiliário e divisórias foram
desembolsados R$ 78,6 milhões. Quando da apresentação do projeto, em julho de
2004, o gasto global estava estimado em cerca de R$ 500 milhões.
Defesa
O PSDB de Minas se manifestou sobre o caso por meio
de nota. “São falsas as acusações sobre irregularidades na obra da Cidade
Administrativa.
Investigação do Ministério Público sobre a
licitação da obra foi arquivada em 2014 após a constatação de absoluta
regularidade de todos os procedimentos licitatórios (Inquérito Civil Público
0024.07.000.185-4)”, diz o texto.
“O inquérito civil instaurado recentemente não traz
nenhum indício ou prova de qualquer irregularidade. Foi aberto tendo como base
apenas um e-mail distribuído em uma rede de pessoas vinculadas ao PT. O PSDB-MG
não tem conhecimento de qualquer acusação de superfaturamento da obra”.
Fonte: Exame