Ex-primeira
dama teve morte cerebral após AVC. Ela estava internada desde 24 de janeiro.
Especialistas avaliam ataques e discurso de ódio de internautas contra a
família de Lula A notícia de que o quadro de saúde da ex-primeira dama Marisa
Letícia era irreversível provocou reações agressivas nas redes sociais. Ela
sofreu acidente vascular cerebral (AVC) em 24 de janeiro e desde então estava
internada. Enquanto a família agradecia mensagens de solidariedade e se
preparava para doação de órgãos, internautas com perfis falsos e verdadeiros
espalhavam ódio pelas mídias.
A maioria dos comentários em tom malicioso estava
em notícias relacionadas à morte cerebral de Dona Marisa, companheira de 40
anos do ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva. Para especialistas, a
agressividade reflete o clima de polarização que se agrava no País desde 2014.
O antropólogo da ESPM, Carlos Frederico Lúcio,
compara o momento político e as reações em torno da morte da também ex-primeira
dama Ruth Cardoso, em 2008, mulher de Fernando Henrique Cardoso. Ele avalia que
a repulsa contra Lula vai além de motivos políticos.
“As pessoas nem têm muito bem a imagem de quem foi
a Marisa, eles veem o Lula. Isso não foi comentado em relação a Ruth, quando
ela morreu. O governo FHC não foi um mar de rosas em termos de corrupção, mas
não se fala disso na mídia. A morte do filho de (Geraldo) Alckmin também não
gerou esse tipo de reação”, afirma.
Para ele, uma das provas de que os comentários
levam em consideração mais que o horror pela corrupção é que na morte do
ex-senador Antônio Carlos Magalhães não causou comentário no mesmo nível de
acidez que se viu com Marisa. O político baiano teve vários escândalos ligados
a seu nome ao longo da carreira.
Filósofo e professor de relações públicas da
Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), Luis Fernando Viti,
explica que a propagação do discurso de ódio é o lado assustador da Internet.
“A gente constata que a qualidade do debate ético
do Brasil não é das melhores. O que podemos fazer são propostas de médio e
longo prazo. Não sou a favor da censura. Mas casos extremos devem ser
denunciados”, argumenta. Ele defende ainda que a educação, sobretudo em
ciências humanas, poderá reduzir esse tipo de comportamento, incompatível com a
“civilidade”.
Apesar de condenarem os ataque a Lula e a Marisa em
momento de luto, os pesquisadores ressaltam também a propagação de mensagens
positivas.
Outro lado
Rivais políticos, Lula e FHC prestaram
solidariedade e fizeram visitas um ao outro no momento do falecimento de suas
esposas. FHC esteve ontem no hospital sírio-libanês. O presidente Michel Temer
também realizou visita para ver o ex-presidente petista.
Políticos como os senadores Ronaldo Caiado (DEM) e
Aécio Neves (PSDB), que nunca pouparam críticas a Lula, também prestaram
condolências. O fundador do site liberal e anti-petista Spotniks, Felippe
Hermes, deu pêsames à família de Lula e lembrou que a avó também havia padecido
após AVC, assim como Marisa.
SAIBA MAIS
A trajetória de Marisa
A ex-primeira dama Marisa Letícia nasceu em 1950,
em São Bernardo do Campo, no Interior de São Paulo em uma família de 15 irmãos.
Antes de se casar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marisa foi
casada com o taxista Marcos Cláudio da Silva, com quem teve um filho. O
primeiro marido foi assassinado. Marisa conheceu Lula em 1973. Ela foi a
segunda mulher dele. Juntos, eles tiveram três filhos. Ela esteve ao lado do
marido durante toda a carreira política dele, desde a presidência do sindicato
dos metalúrgicos até a ascensão à Presidência. A primeira-dama enfrentou ao
lado dele acusações de corrupção.
Partido dos Trabalhadores
Segundo o site oficial do PT, a primeira bandeira
do partido foi confeccionada por Marisa. Apesar de sempre apoiar o marido nas
empreitadas, a ex-primeira dama nunca assumiu papel de protagonista na
política.
Fonte: O Povo