quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Há 30 anos, eleição de Tasso marcava entrada do Ceará na era da modernidade

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O ano de 2016 marca os 30 anos de uma das principais mudanças da história política do Ceará: a eleição do então jovem empresário Tasso Jereissati para o Governo do Estado. Pesquisadores e integrantes da gestão à época relembram os impactos da disputa que marcaria não apenas a derrota de adversários de tradição política, mas, principalmente, o início de um novo modelo de gestão que modificou a realidade do Ceará.
O governo, que ficou conhecido como “Era Tasso”, rompeu com a política do coronelismo e deixou marcas em áreas como saúde, educação, finanças e obras de convivência com a seca. O momento marcou o resgate do orgulho de muitos cearenses e o nascimento de um dos principais líderes políticos do Ceará.
A partir desta terça-feira (6), o Jornal Jangadeiro e o Tribuna do Ceará publicam uma série de três reportagens, mostrando alguns dos principais legados das gestões de Tasso Jereissati.
“Governo das Mudanças”
No dia 15 de novembro de 1986, cerca de 1,5 milhão de votos elegeram Tasso Jereissati, pela primeira vez, governador do Ceará. A disputa contra o militar Adauto Bezerra, do PFL, foi acirrada. Tasso venceu com 52,32% dos votos. À época, o País vivia turbulento momento político, há poucos anos do fim da ditadura militar.

No Ceará, a realidade era de um estado onde as contas não batiam, com gastos acima da arrecadação, salários atrasados, problemas no abastecimento de água, alto índice de mortalidade infantil, população vulnerável a doenças e baixos níveis de educação.
Já no primeiro ano de governo, o Ceará sofreu grandes mudanças políticas. Tasso implantou um projeto de moralização, austeridade e transparência na gestão pública, no que ficou conhecido como o “Governo das Mudanças”.
“Tasso tenta evitar toda e qualquer forma de coronelismo, de clientelismo; limpa a folha de pagamento do Estado, faz com que o Estado não vá empregar mais do que o que necessita e consegue com isso um Estado superavitário, um Estado que vai poder investir”, relembra o sociólogo André Haguette.
Até 1987, antes de Tasso Jereissati assumir o governo, servidores públicos chegavam a receber salários em forma de vales, conhecidos como “gonzaguetas”, uma referência ao nome do então governador Gonzaga Mota.
Cobrança de impostos
A rigidez no trato da “coisa pública” vinha do próprio governador eleito e também do economista Lima Matos, escolhido para assumir a Secretaria da Fazenda (Sefaz). Durante o primeiro mandato, Tasso Jereissati deu liberdade para Matos controlar gastos na missão de tirar o Ceará do vermelho. Foi o que ele fez em quatro anos.
Um Estado que, em 1986, estava à beira da falência, passou a ter dinheiro em caixa e credibilidade, antes mesmo de terminar o primeiro mandato. No começo, foi difícil romper com as tradições políticas e econômicas. Parte da população tentava, de diversas formas, driblar o pagamento de impostos.
“Eu cheguei a ir à Assembleia, onde nós colocamos: ‘Serei o melhor defensor que os deputados podem ter, tudo o que vocês botarem na lei, eu vou fazer. Agora, o que vocês não podem é botar na lei que é para cobrar impostos e ir pedir ao secretário para dispensar”, conta Matos.
“Tasso tenta evitar toda e qualquer forma de coronelismo, de clientelismo; limpa a folha de pagamento do Estado, faz com que o Estado não vá empregar mais do que o que necessita”. (André Haguette)
O ex-secretário da Fazenda recorda que um servidor da Sefaz chegou a ser morto ao cobrar impostos no Interior do Estado, já que a atitude não era um hábito dos governos anteriores.
“Eu próprio passei a andar armado, andava com segurança, (sofria) com constantes ameaças, de morte, inclusive, mas, a partir do segundo ano, a coisa se normalizou”, afirma Lima Matos.
Avanços na área social
Além do controle de gastos e enxugamento da folha de funcionários, o “Governo das Mudanças” ganhou visibilidade mundial por avanços na área social.
Um dos maiores desafios do governo, quando Tasso tomou posse, era reduzir os índices de mortalidade materna no Ceará, estimada em 150 mortes para cada mil nascimentos, um índice semelhante ao de países africanos. Reverter o cenário foi função do médico sanitarista Carlile Lavor, nomeado secretário da Saúde.
“O Estado do Ceará era paupérrimo. Uma coisa que se conseguiu importante foi mobilizar a sociedade, desde os pediatras, os enfermeiros, as assistentes sociais, toda a sociedade se empenhou em que reduzíssemos a mortalidade infantil. Foi essencial o trabalho do governador. Anteriormente, todos os funcionários públicos eram escolhidos por padrinhos políticos. Seis mil agentes de saúde foram escolhidos por critério de qualidade”, ressalta o ex-secretário.
“O Estado do Ceará era paupérrimo. Se conseguiu mobilizar a sociedade, desde os pediatras, os enfermeiros, as assistentes sociais, toda a sociedade se empenhou em que reduzíssemos a mortalidade infantil”. (Carlile Lavor)
Convivência com a seca
O plano deu certo, mas, para dar mais qualidade de vida à população, eram necessários maiores investimentos. Aos poucos, com as finanças em ordem, tornava-se mais fácil pensar em desenvolvimento.
A partir de então, entra em ação o plano de Hyperides Macedo, nomeado por Tasso Jereissati secretário de Recursos Hídricos: levar água para todos os municípios. Obras estruturantes foram iniciadas na “Era Tasso”, dentre elas uma das mais importantes para o Ceará: a construção da barragem do açude Castanhão, o maior da América Latina que, até hoje, abastece Fortaleza e Região Metropolitana.
“Você imagina Fortaleza sem água, abastecida por carro-pipa de onde? De onde que o carro-pipa de Fortaleza vinha? Do mar não podia, por causa da água salgada. Então, imagine que nós estamos no sexto ano de seca, numa época crítica da meteorologia do semiárido, e estamos sobrevivendo. Essa estrutura foi um marco importantíssimo na nossa história. Se não tivesse existido ela, queria saber como o Ceará se encontrava numa altura dessa”, pontua Hyperides.
O ex-secretário também relembra outros avanços importantes na área de recursos hídricos, como a distribuição de água por quarenta barragens e a transferência de água por adutoras.
“Todo esse programa de adutora, de açude no território de distribuição de água, Castanhão, integração de bacia, principalmente, foram todos acolhidos pelo Banco Mundial. Mas, na época anterior, houve certo retrocesso porque a secretaria foi acolhida por um grupo político que realmente não tinha disposição de avançar nessa política de recursos hídricos”, frisa.
“Você imagina Fortaleza sem água? Nós estamos no sexto ano de seca, numa época crítica da meteorologia do semiárido, e estamos sobrevivendo”. (Hyperides Macedo)
O caminho das águas deu cor a um sertão seco e, literalmente, sem vida. Cisternas passaram a fazer parte da paisagem ao mesmo tempo em que a população garantiu mais acesso aos serviços do governo, o que, para André Haguette, foi a maior vantagem do que ele chama de “Era Tasso”.
“O povo se beneficiou desse governo de várias maneiras, primeiro através de emprego. (Tasso) fez coisas estruturais, como o Caminho das Águas, que passou a beneficiar a água de forma que o produtor pudesse beber e tivesse água na torneira. A gente pode caracterizar os governos de Tasso como a ‘Era Tasso’, como foi caracterizado. Esses governos significaram um novo modelo, uma tentativa de transformar o Ceará rural e pobre em um Ceará modernizado, mais industrializado, mais escolarizado, com uma economia diferente, e mais produtivo”, ressalta o sociólogo.

Fonte: Tribuna do Ceará
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