São Paulo e Rio – Eike Batista não desiste. Alçado
a um dos maiores empresários do País nos anos 2000, com negócios que iam de
óleo e gás à mineração e passavam pelo entretenimento, ele viu o seu império
ruir há três anos.
Com a derrocada, as empresas mudaram de mãos e sua
fortuna – que chegou a ser estimada em US$ 34 bilhões – derreteu.
Mesmo sem os bilhões e os holofotes, a ambição de
Eike não diminuiu. Com uma rotina pesada de trabalho, ele tenta tirar do papel
diversos projetos.
Todos os dias, o ex-bilionário dá expediente em um
prédio comercial na Praia do Flamengo, onde o grupo ficava antes de se mudar
para o suntuoso Edifício Serrador, no centro do Rio.
Os 23 andares do prédio histórico chegaram a
abrigar 400 funcionários da EBX – holding que reunia os negócios do grupo.
Hoje, a equipe de Eike se resume a 20 pessoas
dedicadas a negócios minúsculos em comparação às ambições um dia associadas às
empresas X.
Mas a nova realidade não desanima o empresário que
queria ser o homem mais rico do País. “Ele quer dar a volta por cima”, disse à
reportagem uma pessoa próxima.
As novas apostas vão do lançamento de um creme
dental que promete regenerar o esmalte dos dentes a um projeto logístico no
Chile. Para pôr os novos planos em pé, o empresário ganhou companhia constante:
seu filho mais velho, Thor, de 25 anos.
“Eike sempre se espelhou no pai (o ex-ministro e
ex-presidente da Vale, Eliezer Batista, que está doente). Thor parecia não ter
tanto interesse, mas passou a participar mais ativamente dos negócios”, diz
outra fonte próxima a Eike.
Nessa nova fase, o projeto de Eike que mais se
aproxima de suas antigas empreitadas é um corredor logístico que prevê o
transporte de cargas da Argentina até o Chile, transpondo os Andes.
A Rex Inversiones, 100% controlada por ele, tem 200
mil hectares de área em Copiapó, região do Atacama.
O terreno foi adquirido quando o empresário ainda
tinha uma empresa dedicada ao setor de energia – a MPX – e pretendia construir
uma térmica a gás.
Agora, a ideia é erguer um porto com capacidade
para movimentar 15 milhões de toneladas de grãos e minério. Embora o projeto
seja embrionário, Eike já o apresentou a investidores.
O projeto de infraestrutura é visto como o mais “pé
no chão” entre as atuais apostas do empresário. O portfólio inclui ainda dois
negócios de produtos químicos: um deles, a hidroxiapatita, que é usado em
cremes dentais para o mercado premium; outro, o grafeno, que pode ser utilizado
na produção de produtos plásticos e semicondutores.
O projeto do creme dental está mais avançado. Um
consultor foi contratado por Eike para conduzir testes na Alemanha e nos EUA.
Segundo esse profissional, que pediu para não ser
identificado, a intenção é lançar o produto entre 2017 e 2018, caso ele se
mostre eficaz. O produto já tem marca (Elysium) e preço (estimado em R$ 12 o
tubo).
Antes de investir na Elysium, Eike cogitou lançar
um medicamento sublingual para disfunção erétil (genérico do Viagra). “Ele
chegou a conversar com a farmacêutica sul-coreana CL Pharma, mas o projeto não
avançou”, disse uma fonte.
Outra ideia, a de exportar biomassa de cana para a
Europa, também não andou. A queda do preço internacional do gás e do carvão
tornou a ideia inviável.
Em fevereiro, Eike comprou 20% da Vox2You,
especializada em oratória, com duas unidades no interior de São Paulo. A
empresa foi fundada por Luis Fernando Câmara, de 26 anos.
Câmara disse à reportagem que fez contato por
e-mail com o empresário em 2009. “Eike me convidou para visitá-lo e me deu
vários conselhos.” A relação continuou e Eike apostou na Vox2You, que pretende
ser uma franquia.
O comportamento do empresário mudou junto com o
porte de seus negócios. Ressentido com toda a exposição negativa que teve com a
quebra do grupo, está mais reservado e avesso a entrevistas.
Uma fonte conta que Eike hoje tem poucos amigos. E
até pessoas próximas admitem que uma “volta por cima” é improvável. “Falir aqui
no Brasil é visto como fracasso. Vai ser difícil para ele recuperar a
credibilidade.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.