A Petrobrás, a partir de
auditorias internas, tem uma estimativa preliminar de que o grupo Odebrecht
participou do desvio de pelo menos R$ 7 bilhões da estatal. Os valores levam em
consideração não apenas obras de engenharia. Incluem todo um passivo que teria
sido criado com superfaturamentos aplicados em contratos de construção de
unidades operacionais, de fornecimento de equipamentos, como sondas, e de
prestações de serviços, como exploração de petróleo, e que ajudaram a cobrir o
pagamento de propinas no esquema de corrupção que envolveu executivos da
Petrobrás e políticos.
Segundo relatou ao
Estadão uma fonte com trânsito na Petrobrás, o valor não foi divulgado
oficialmente e nem informado à própria Odebrecht porque a estatal aguarda o
resultado das mais de 70 delações de executivos do grupo Odebrecht. Acredita-se
que novos detalhes poderão elevar essa estimativa inicial e deixar a
indenização que a Petrobrás vai pleitear ainda mais elevada.
A lista de negócios do
grupo Odebrecht com a Petrobrás é extensa. Os mais lembrados são as obras da
refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e do Comperj, o Complexo Petroquímico do
Rio de Janeiro. Mas os laços entre o grupo empresarial e a estatal são muitos e
diversos.
Odebrecht e Petrobrás são
sócias na Braskem. A Odebrecht Óleo e Gás conquistou contratos para perfuração
de petróleo. O grupo também participou da reorganização da indústria naval e
tornou-se sócio do estaleiro Enseada do Paraguaçu, na Bahia que forneceria
sondas. A companhia ganhou até licitação para prestar serviços na área de
segurança e meio ambiente em dez países onde a Petrobrás tem atividades. Em
muitos negócios, o superfaturamento já foi alvo até de questionamentos do
Tribunal de Contas da União.
Estados Unidos.
Segundo o executivo ligado
à Petrobrás, além disso, a conta que o grupo Odebrecht terá de pagar por atos
ilícitos em diferentes países pode ser mais elevada do que se pressupunha. O
Departamento de Justiça dos Estados Unidos avalia cobrar entre US$ 2,5 bilhões
e US$ 3 bilhões em multas nos processos em que investiga crimes de corrupção do
grupo Odebrecht em diversos países, como Venezuela, Panamá, El Salvador e
Equador e que tiveram alguma conexão americana.
Na semana que passou,
reportagem publicada pelo Estado mostrou que a Odebrecht negocia com
investigadores dos Estados Unidos e da Suíça o maior acordo de leniência da
história. O valor inicial em discussão seria da ordem de R$ 6 bilhões. Essa
cifra já bateria um novo recorde na história desse tipo de punição, superando a
multa mais alta paga até agora, de US$ 1,6 bilhão, aplicada sobre o grupo
alemão Siemens.
Odebrecht e a Braskem têm
negócios nos Estados Unidos e estão sujeitas à lei americana de anticorrupção
no exterior, a FCPA (Foreign Corrupt Practices Act), que proíbe o pagamento de
propina a agentes públicos.
A eleição nos Estados
Unidos também teria repercussão sobre o processo do grupo brasileiro. Com a
vitória de Donald Trump, as equipes de trabalho de vários órgãos serão
alteradas, o que inclui áreas responsáveis pelas investigações e pelo
acompanhamento dos processos criminais do grupo Odebrecht. Por causa dessa
mudança, não se tem clareza sobre os rumos das investigações nos Estados
Unidos, nem como será o relacionamento da nova equipe com a força tarefa da Lava
Jato no Brasil. A equipe hoje responsável pelo caso prefere acelerar o processo
e cobrar as multas o quanto antes.
Procurada pela reportagem
por meio de suas assessorias de imprensa, a Odebrecht declarou que não se
manifestaria. A Petrobrás não respondeu até o fechamento desta edição.
PARA LEMBRAR
Maior delação da Lava
Jato.
A Odebrecht negocia com o
Ministério Público Federal a maior delação premiada da Lava Jato, que deve
envolver cerca de 70 executivos. As denúncias capitaneadas por Marcelo
Odebrecht deverão revelar a atuação de empresas, políticos, partidos e agentes
públicos em esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro em negócios com o
governo federal e que são ainda desconhecidos pela Justiça. Serão relatadas
irregularidades em obras de aeroportos, rodovias, metrôs, usinas de energia,
estádios da Copa, contratos nos setores petroquímico, saneamento e defesa,
negócios com fundos de pensão e operações com o BNDES, prometendo dar nova
dimensão ao escândalo Petrobrás. Até agora a Lava Jato já identificou R$ 6,4
bilhões em esquemas de corrupção na Petrobrás. As informações são do jornal O
Estado de S. Paulo.