Preocupado com a possibilidade de um
racha que reduza o PT à condição de partido pequeno, o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva tem articulado uma proposta de consenso sobre a forma de
escolha da nova direção petista a ser apresentada na reunião do Diretório
Nacional do partido, marcada para quinta e sexta-feira em São Paulo.
A reunião será o ápice de uma semana
crucial para o futuro do PT. Nos próximos cinco dias, o partido vai definir a
forma de escolha da nova direção, que pode implicar em uma mudança radical no
comando da legenda, e a profundidade do processo de reconstrução do partido.
O Diretório Nacional deve convocar na
sexta-feira, 11, o 6º Congresso Nacional do PT, que vai definir os rumos da
sigla em data a ser definida. “A semana será crucial, pois nessa reunião será
convocado o 6º Congresso”, disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), um dos
vice-presidentes da legenda.
Hoje Lula se reúne com as bancadas do
PT na Câmara e no Senado em um hotel em São Paulo. “É um diálogo para dar os
contornos da reunião do Diretório Nacional”, disse Teixeira.
Nas últimas semanas, Lula ouviu todas
as correntes internas com representação nacional, algo que não fazia desde que
foi eleito presidente, em 2002. Depois de escutar mais do que falar, Lula
passou a conversar diretamente com as principais lideranças de cada força
interna do PT. Segundo relatos, ele tem consultado o partido sobre uma proposta
de consenso para a escolha da direção.
Pela sugestão, o partido realizaria
eleições diretas nos diretórios municipais para a escolha dos dirigentes locais
e de delegados para os congressos estaduais que, por sua vez, elegeriam
delegados para o 6.º Congresso Nacional com plenos poderes para escolher a nova
direção e dar início ao processo de reconstrução partidária depois dos fortes
abalos causados pela Lava Jato, o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e
a derrota histórica nas eleições municipais deste ano.
Com essa proposta, Lula espera agradar
tanto à corrente majoritária, Construindo um Novo Brasil (CNB), que defende
eleições diretas para escolha da direção, quanto ao Muda PT, grupo que congrega
as cinco principais correntes de esquerda do partido e trabalha pela escolha da
nova cúpula no 6º Congresso Nacional.
Urgência
Lula corre contra o tempo. O objetivo
é costurar um acordo até quarta-feira, quando as correntes se reúnem para
definir qual posicionamento terão na reunião do Diretório Nacional. O
ex-presidente quer evitar que a forma de escolha da nova direção seja decidida
pelo voto e aprofunde as divisões internas dentro da legenda.
Enquanto isso as correntes petistas
preparam suas propostas. A CNB consulta as outras sobre a possibilidade de um
mandato-tampão de dois anos, até as eleições de 2018.
Pressão
Durante a semana, deve aumentar a
pressão para que Lula aceite presidir o PT, mesmo que interinamente. Lideranças
petistas vão argumentar que o ex-presidente é o único nome capaz de evitar uma
debandada de parlamentares do partido assustados com a rejeição ao PT nas
eleições municipais e que procuram alternativas partidárias para garantir a
sobrevivência política.
Dirigentes do partido avaliam que se
Lula não agir rápido, mais da metade da bancada na Câmara pode deixar o PT.
Por outro lado, líderes da esquerda
petista, como o ex-governo do Rio Grande do Sul Tarso Genro, preveem a saída de
quadros do partido caso a CNB interdite a reconstrução profunda da sigla.
O debate sobre mudanças na forma de
organização e a necessidade de uma profunda reformulação dos métodos e programa
petistas têm dominado todos os espaços do partido. Anteontem, durante plenária
de avaliação da derrota que o partido sofreu no Estado de São Paulo (onde caiu
de 72 para apenas oito prefeitos), o ex-ministro da Comunicação Social Edinho
Silva, prefeito eleito de Araraquara, verbalizou a possibilidade de debandada.
“Muitos daqueles que estão conosco vão
se utilizar da crise para construir um novo caminho”, disse ele.
Segundo Edinho, a reconstrução passa
por assumir os erros cometidos e sair da agenda da disputa interna. “O pior
caminho é a luta interna”, disse o ex-ministro.
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