Mesmo com a Polícia Federal (PF) investigando a venda
de liminares (principalmente em plantões judiciários) desde 2013, as
negociações para livrar autores de crimes hediondos da prisão não teriam sido
interrompidas. “Há indícios de que os ilícitos perduram até a atualidade”,
afirmou o superintendente da PF, Delano Cerqueira Bunn. Ontem, três desembargadores e 14 advogados tiveram
gabinetes e escritórios vasculhados por policiais e foram conduzidos de forma
coercitiva para prestar depoimento na sede da PF. A Polícia havia pedido a
prisão de todos esses investigados, mas a Justiça Federal não acatou o pedido.
Dois dos desembargadores apontados na investigação, que ainda estão na ativa,
também não foram afastados.
A suspeita de que o esquema criminoso não parou é
embasada em provas coletadas na primeira fase da operação Expresso 150, deflagrada
em junho do ano passado. Conforme o superintendente da PF, a certeza de
impunidade por parte dos componentes do Judiciário possibilitou que as
ilicitudes continuassem. “Alguns dos principais investigados confessaram.
Desembargadores também. (Eles) Admitiram, mas é algo que ainda vai ser objeto
de defesa deles”. Fase dois
Ontem, na fase dois da operação, intitulada
Capuccino, 19 mandados de busca e apreensão e 24 de condução coercitiva foram
cumpridos. Entre os desembargadores investigados, dois foram citados apenas
nessa segunda fase. São suspeitas ainda outras sete pessoas, que, segundo a
Polícia, seriam familiares e conhecidos dos desembargadores que negociavam
diretamente com os advogados.
O inquérito que investiga os crimes é presidido
pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Herman Benjamim, que
expediu os mandados cumpridos ontem. Foram apreendidos R$ 6 mil na casa de um
dos advogados investigados e as contas de um desembargador já aposentado e de
outro advogado foram bloqueadas.
Habeas corpus
O superintendente da PF destacou que os valores dos habeas corpus (HC)
podiam variar entre R$ 30 mil e R$ 150 mil. “Os HC foram principalmente para
traficantes, homicídios, roubos e crimes hediondos de toda espécie. As
evidências coletadas são firmes e plenamente aptas a caracterizar os atos de
desvio de conduta e corrupção que vinham sendo manejados por parte de
desembargadores em conluio com advogados”, resumiu o delegado Wellington
Santiago. (colaboraram Domitila Andrade, Thaís Brito e Thiago Paiva).
Fonte: O Povo