Os R$ 6 milhões apreendidos pela Polícia Federal no escritório de empresa
ligada ao deputado federal Adail Carneiro (PP) continuam sem origem clara.
Depois de afirmar, logo após a operação, que o dinheiro pertencia aLocadora Autos Ceará (Lauce) a partir de contrato com a
Prefeitura de Fortaleza – informação negada pela própria Prefeitura -, Adail
disse, nesta segunda-feira (2), que a verba é da Locadora
Autos Brasil (LA
Brasil), que detém contrato oficial. Ambas, no entanto, são ligadas ao deputado
e já estiveram juntas em polêmica, no final de 2013, envolvendo licitação do
Governo Municipal.
O dinheiro foi apreendido na
sexta-feira (9), na Operação KM Livre, em diferentes
endereços de empresas ligadas ao deputado. Foram apreendidos cerca de R$ 6
milhões em pacotes com cédulas de R$ 100 no cofre da empresa. O deputado afirma
que o dinheiro é lícito e oriundo de licitações com a Prefeitura de Fortaleza
para o serviço de locação de veículos.
O contrato da Prefeitura,
diferentemente do afirmado pelo deputado na sexta-feira, é com a LA Brasil que,
em 2016, já recebeu R$ 9,7 milhões do poder público, de acordo com o Portal
da Transparência. Tanto a LA Brasil como a Lauce atuam no mesmo
endereço e são de familiares do deputado. Em 2013, as duas disputaram a
licitação para locação de carros, mas, na reta final, a Lauce não entregou à
Prefeitura a documentação necessária. Na mesma época, a LA Brasil foi acusada de usar uma proprietária “laranja” como sócia.
Em entrevista ao Tribuna
do Ceará, o contador da empresa PHD
Contabilidade, Antonio Braga, cujo endereço eletrônico e número de
telefone constam nos registros de ambas as empresas, afirmou que seu escritório
atua apenas no setor de recursos humanos. “A Lauce como a LA Brasil, todas as
duas empresas operam na (avenida) Desembargador Moreira, número 3000, onde fica
a frota e tudo, aqui só fica o recursos humanos. O endereço virtual é para
efeito de notificação porque os funcionários estão registrados no mesmo
endereço”, afirma Braga.
O contador ressalta que não houve
operação da PF em seu escritório. “As empresas são do grupo da família dele
(Adail Carneiro), da família, dos filhos, da mulher, e do irmão dele, na
realidade. É público e notório que as empresas são da família dele. O que eu
saiba, na Constituição, não existe nada ilegal nisso, ele só não opera porque
ele não pode responder, porque ele assumiu como deputado”, disse Braga.
Adail
Carneiro
Na tarde desta segunda-feira, o
deputado Adail Carneiro voltou atrás nas afirmações que disse à imprensa desde
a sexta-feira. Ele afirmou que o dinheiro apreendido pertence a LA Brasil e a
informação de que a verba pertencia a Lauce partiu de um equívoco durante
entrevista.
“Coloquei que esse recurso é oriundo
de uma prestação de serviço, através da locação de veículos com a Prefeitura de
Fortaleza. Esqueci de colocar que isso é de outra empresa, não da empresa
Lauce, como o repórter havia mencionado. Inclusive não tenho nem conhecimento
absoluto dessa empresa”, afirmou, referindo-se a LA Brasil.
“Essa relação é uma questão
de imprensa, de mídia, não tem nenhuma relação comigo que não sejam pessoas da
família, proprietários e ex-proprietários dessas empresas que estão sendo
colocadas pela mídia”
Adail pontuou que não sabe o que
motivou a operação da Polícia Federal. Segundo ele, não houve cumprimento de
mandado em seu apartamento funcional em Brasília nem notificações da PF. “Essa
relação é uma questão de imprensa, de mídia, não tem nenhuma relação comigo que
não sejam pessoas da família, proprietários e ex-proprietários dessas empresas
que estão sendo colocadas pela mídia”, afirmou.
O pedido de busca e apreensão foi
acolhido pela ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), em virtude do foro privilegiado
do parlamentar. A Procuradoria Geral da República (PGR) e a Polícia Federal,
responsáveis pela investigação, não divulgaram o que motivou a operação.
Disputa em licitação
No final de 2013, Lauce e LA Brasil já
estiveram juntas em polêmica. Ambas as empresas disputaram a licitação da
Prefeitura Municipal para o serviço de locação de carros. À época, a LA Brasil,
que já era detentora do contrato na gestão de Luizianne Lins, venceu o novo
certame após a Lauce não entregar a documentação necessária. O mesmo endereço
ao qual as empresas estão ligadas, no bairro Dionísio Torres, já pertenceu a
outras empresas das quais Adail foi sócio, a Movement e a Trapézio, cujo nome
ainda é visível em imagens registradas na internet.
À época, a LA Brasil foi denunciada na
Câmara Municipal por usar, supostamente, uma proprietária laranja como sócia
majoritária. Cícera Fernanda Pires Silva, que consta como proprietária, é de
Russas e já foi candidata a vereadora em 2004. O Tribuna
do Ceará não conseguiu
localizá-la. No período das denúncias, a empresa negou as acusações. Adail, que
na época era suplente de deputado estadual, também disse não ter relação com as
locadoras de veículos.
Diante de nova polêmica envolvendo as
empresas, o deputado federal reafirmou que não tem informações sobre as
empresas e que buscou informações junto a advogados sobre a operação para
esclarecer a demanda da imprensa.
“São endereços distintos. O endereço
para recebimento, para correios, para comunicação é um, e a garagem de
recolhimento de veículo e onde funciona parte do departamento pessoal e
financeiro é que é na Avenida Desembargador Moreira. A empresa Lauce está sem
movimentação há alguns anos, não sei precisar. A empresa que tem a garagem
funcionando na Desembargador, onde houve a operação, é a LA Brasil, que presta
serviço à Prefeitura de Fortaleza”, disse.
Apoio
a campanhas eleitorais
O deputado também descartou
especulações de que o dinheiro apreendido era oriundo da oferta gratuita de
carros para a campanha de Roberto Cláudio, em Fortaleza; e de Ivo Gomes, em
Sobral. “Alguns blogs disseram que esse dinheiro que foi encontrado era para
campanha de seu fulano e seu sicrano. Não existe nada disso, é apenas intriga,
aquilo que a gente coloca como dito popular: ‘é intriga da oposição’. Estão
querendo criar problema onde não existe”, ressaltou.
Ele também afirmou que a LA Brasil
está reunindo equipe de advogados que vão pedir a devolução do dinheiro levado
pela PF. Ainda que não tenha relações com as empresas, Adail
defendeu que não há irregularidade em ter dinheiro em espécie e destacou a
greve dos bancos como um dos motivos que levou a empresa a armazenar a verba na
sede.
O Tribuna
do Ceará solicitou à PGR
informações sobre a motivação do caso, mas não obteve resposta até a publicação
dessa reportagem. O Ministério Publico Federal no Ceará afirmou que
procuradores acompanharam o cumprimento do mandato, mas o teor do processo é de
responsabilidade da PGR.
Fonte: Tribuna do Ceará