segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Pichações proibindo roubos se espalham por Fortaleza

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Mensagens pichadas em muros da Capital advertem para punições em caso de assalto aos moradores de comunidades. Ameaças são atribuídas a facções criminosas e traficantes. SSPDS diz que autorias são investigadas Considerados os crimes que mais influenciam na sensação de segurança, as estatísticas de roubo apresentam altas consecutivas há dez meses no Ceará. Nesse cenário, mensagens com suposta autoria de facções criminosas, proibindo roubos, foram disseminadas em várias regiões de Fortaleza. Os chamados “avisos” do tráfico, de autoria e veracidade desconhecidas, estabelecem uma justiça paralela e são recebidos com estranhamento e até aprovação dos moradores.


Enquanto a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) afirma que a situação está sendo investigada, pessoas que vivem em locais demarcados como parte de territórios para o tráfico de drogas testemunham a ação de criminosos, que acabam por assumir o papel que cabe ao Estado. O POVO visitou alguns dos pontos onde os avisos estariam vigorando e ouviu moradores. Alguns se recusam a falar sobre o assunto, por desconhecimento ou medo de represálias. Outros, sem se identificar, confirmam a existência de um “policiamento” do crime.
“É verdade. Aqui, os avisos foram colocados por eles mesmos. Digo porque picharam um no muro da minha casa. Na semana passada, assaltaram um mulher mesmo em frente à pichação. Um dos meninos do bairro viu e alertou os traficantes. Ligeiro eles trouxeram as coisas dela de volta”, detalhou uma dona de casa, de 23 anos, que vive na comunidade Parque Albano, no Mondubim.


O assaltante que teria tomado a bolsa da vítima, conta a mulher, mandaram soltar. “O traficante mandou dizer que queria pegar ele com as próprias mãos pra cumprir o aviso”, recorda. O texto da ameaça no muro detalha que “se roubar cidadão na favela vai morrer”. Mensagens semelhantes existem em bairros como Pirambu, Genibaú, Papicu, Messejana, Sapiranga, Jangurussu e Barroso. Neste último, as ameaças chegaram a ser demonstradas em vídeo.


Em imagens compartilhadas nas redes sociais, na semana passada, um jovem foi agredido a pauladas por suspeitos que diziam fazer parte do “Crime do Barroso”. Eles acusavam o jovem de ter roubado e agredido uma mulher, numa parada de ônibus, na Comunidade da Babilônia. “Ele andou roubando aqui nas áreas. Roubou uma cidadona (sic) e deu uma pisa nela. Aqui é o certo pelo certo!”, diz.


Domínio
No bairro Presidente Kennedy, na esquina entre a avenida Sargento Hermínio e rua São Damião, o alerta diz que o roubo será “punido” à altura. Segundo moradores, a mensagem surtiu efeito. “Diminuiu muito os assaltos aqui. A parada de ônibus mais perto era o ‘point’ dos assaltos. Tinha roubo manhã, tarde e noite. Hoje é difícil”, comenta um funcionário público, de 42 anos.


“Pra falar a verdade, eu acho que cada um tem que se cuidar. Não é só aqui, mas em qualquer lugar”, disse uma professora de 52 anos. “Eu não me confio nisso. Temos que nos precaver de todas as formas”, completa uma aposentada de 64 anos.


Procurado pelo O POVO, o secretário-adjunto da SSPDS, coronel Lauro Prado, diz haver “oportunismo” por trás de algumas mensagens. Ele destaca, porém, que os casos comunicados à Polícia são investigados, ainda que de maneira preliminar. Prado não soube dizer, contudo, se a autoria de alguma das mensagens foi identificada. “Acredito que seja algum modismo, até porque as mensagens não são direcionadas a ninguém em específico. Além disso, os roubos continuam ocorrendo”, defende.


Ameaça de punição
No bairro Presidente Kennedy, o “aviso do crime” está na rua São Damião, quase na esquina da avenida Sargento Hermínio

Saiba mais


Os “avisos do crime” são semelhantes às pacificações entre facções rivais, em prol do tráfico de drogas, que se espraiaram por Fortaleza e foram denunciadas pelo O POVO no início do ano. O objetivo seria acabar com os homicídios, evitando a presença da Polícia nesses locais, para que o tráfico não fosse comprometido. O mesmo estaria ocorrendo agora com os casos de roubo, num possível desdobramento dos acordos. O objetivo também inclui uma “legitimação” das facções perante os moradores.


Em abril, dez membros de organizações criminosas que haviam instaurado uma trégua na guerra pelo tráfico, no Vicente Pinzon, em Fortaleza, foram presos durante a operação Vera Pax, do Ministério Público do Ceará (MPCE).


Algumas pichações encontradas pelo O POVO fazem referência às facções criminosas Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro. Na semana passada, cartazes semelhantes foram espalhados em comunidades de São Gonçalo, município fluminense. Conforme reportagem da BBC Brasil, as mensagens atribuídas ao CV alertam que “quem for pego roubando será punido severamente”.
 

Os dados mais recentes da SSPDS sobre Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVPs), que incluem casos de roubo, exceto latrocínio, são referentes ao mês de junho, quando as ocorrências aumentaram 14,3% no Ceará e 10% em Fortaleza. Desde julho de 2015, houve 67.337 roubos no Ceará. Destes, 3.624 se deram na Capital.


Alertas de proibição aos roubos em comunidades dominadas pelo tráfico de drogas também ocorrem em outros municípios do Estado, como Caucaia, Maracanaú e Horizonte.

Fonte: O Povo online
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