Se pudesse definir a população do município de Reriutaba, localizada a
309 quilômetros de Fortaleza, certamente o médico cubano Isidro Rosales Castro,
52 anos, utilizaria o termo “filhos adotivos”.
Há exatos três anos, ele e sua esposa,
Esperanza Anabel, 51 anos, chegaram ao Brasil através do
Programa Mais Médicos. Longe
da família e de amigos, os profissionais da saúde encontraram na população
humilde do interior do Ceará uma nova estrutura familiar.
Morando a mais de 5 mil
quilômetros de Cuba, os profissionais encontraram o apoio
afetivo e a necessidade de fazer um trabalho magnífico. O
trabalho de segunda a sexta-feira, oito horas por dia, é ofertado à população
prioritária, como idosos, acamados e incapacitados. Além disso, Isidro também
tira um tempo para auxiliar o atendimento dos quase 20 mil habitantes do
município.
Motivado pela vontade de transformar a
realidade do município, através do amor pela medicina, Isidro garante que os
desafios na chegada ao Brasil foram enormes. “O primeiro dia que cheguei ao
Brasil realmente foi muito tenso por causa do processo de adaptação, que ficou
marcado pela aproximação com a equipe de saúde e com a população. Quando
chegamos, tivemos que passar um bom tempo conhecendo as principais doenças das
pessoas e os motivos. Foi um momento trabalhoso”, destacou Isidro.
Mas essa não foi a única dificuldade
que o casal encontrou. “O idioma foi um
grande problema no início. Porém, hoje, nos comunicamos com
facilidade. Não podemos falar que falamos como os brasileiros, mas somos
compreendidos e compreendemos com perfeição o que todos falam”, explicou o
médico.
Diferenças
Além do novo idioma, os médicos também
tiveram que se adaptar à nova cultura, costumes, músicas, danças e até às
comidas. Mas em relação às condições de saúde pública do Ceará, Isidro destaca
que tudo melhorou muito desde que pisou no Ceará.
Acho que mudou muita coisa desde que cheguei ao Brasil. Começando pela
cobertura de médico por habitante. Aqui onde trabalho, os indicadores de
mortalidade infantil mostram que chegou a zero no momento. O acesso da
população aos serviços de saúde também ganhou um novo destaque. Claro que
precisa melhorar, mas em relação a 2013, o serviço de atendimento básico está
mais diversificado”, destacou.
Quando perguntado sobre as principais
diferenças entre o serviço ofertado no Brasil e em Cuba, o médico ressaltou a
ampla assistência gratuita do seu país. “A
principal diferença é que no meu país a saúde é gratuita e obrigatória.
E no Brasil, não é assim. Apesar de ter o SUS, que dá ampla cobertura, também
há a medicina privada, tendo em vista que o SUS não tem recursos para resolver
determinadas necessidades”, contou.
Preconceito
No início do projeto, exatamente há
três anos, a onda de preconceitos, segundo os profissionais estrangeiros, foi
enorme. No entanto, Isidro esclarece que tudo não passou de uma informação mal
repassada.
“Considero que o preconceito do início
com os médicos estrangeiros fora por desconhecimento de nossa potencialidade
como profissionais da saúde. Embora nós termos demonstrado que a nossa vinda
seria para ajudar onde mais se precisava. Só queríamos prestar nossos serviços
em função de salvar e preservar vidas humanas”.
Depois de todo esse tempo de convivência, a relação com os profissionais
brasileiros não podia estar melhor. “Temos as melhores relações possíveis com
os médicos brasileiros. Respeitamos o trabalho de cada um que,
por sinal, consideramos muito profissional, e eles respeitam o nosso. E isso é
o que permite uma boa harmonia de trabalho e convivência com todos”, concluiu.
O
retorno
Voltando para Cuba apenas uma vez por
ano, a saudade da família parece apertar cada vez mais com a proximidade do fim
do período de contrato, que deve ser encerrado em 2017. Segundo Isidro,
sua esposa teve que voltar para o país devido a doenças, o que lhe fez encarar
a rotina sozinho.
“A saudade dos filhos e da família
sempre é grande, porém mantemos comunicação estável, e isto ajuda a matar essa
saudade. Em breve, terminará o meu contrato e poderei estar novamente ao lado
da minha filha. E aí sim resolver por definitivo essa saudade, que muitas vezes
aperta o peito e faz derramar algumas lágrimas”, confessa.
Sobre
o Mais Médicos
Os profissionais recebem bolsa de
formação e ajuda de custo pago pelo Ministério da Saúde. No Ceará, 154
municípios contam com médicos do programa. As cidades ficam responsáveis por
garantir alimentação e moradia. Conforme previsto no programa Mais Médicos, os
médicos são selecionados para atuar durante três anos. Nesse período, os
profissionais formados no exterior terão registro profissional emitido pelo
Ministério da Saúde, que lhes dará o direito de atuar exclusivamente na atenção
básica.
Fonte: Tribuna do Ceará