Imagine você pegar R$ 40 e sair de casa com destino a Argentina. Será
que daria certo? Para o cearense Mike Guilherme, isso era quase um fato, não
fosse por um motivo especial. Ainda assim, ele conseguiu viajar de Fortaleza a Salvador com
R$ 90 no bolso no período de 9 dias. Isso porque uma amiga doou R$ 50
ao aventureiro, porque por ele o orçamento seria de apenas R$ 40 mesmo.
A sua inspiração veio de uma moça que teria viajado por
três meses na Europa sem dinheiro, conhecendo cerca de 13 países. Ele, que
fazia o trecho Fortaleza-Tejuçuoca diversas vezes quando criança, se apresentou
com grupos de teatro e capoeira em outras cidades e participou de congressos em
outros estados, decidiu ampliar os horizontes e ir mais longe. Teve a sua
primeira experiência quando foi para São Paulo e passou 38 dias viajando.
Na primeira experiência, Mike começou a se planejar
em janeiro para viajar em julho. Ele passou por São Paulo, Rio de Janeiro,
visitou várias cidades de Minas Gerais, Bahia, Sergipe e Pernambuco.
Isso tudo com 20 anos de idade e uma passagem de ida para São Paulo. Todos os
outros lugares conheceu através de caronas e com hospedagens solidárias.
Estudante de Jornalismo, na época ele era monitor de
rádio e jornal pelo programa Mais Educação em duas escolas públicas. Escolheu o
período de férias para não ser prejudicado. “Minha mãe me chamou de maluco,
dizendo que eu ia me arriscar. Meu padastro me apoiou e acabou convencendo ela,
que criou até um Facebookpara acompanhar a minha fanpage, onde eu posto
informações da viagem”, comenta.
Aventura
Nesta segunda experiência, ele pretendia ir de Fortaleza
até a Argentina. Como estava desempregado e sabia que não iria conseguir um
emprego até o período de férias da faculdade, começou a planejar a viagem com
um mês de antecedência. Como tinha vontade de conhecer os países da América do
Sul, pretendia ir até o Sul do Brasil e passar pela Argentina e pelo Paraguai.
Todavia, ele percorreu seis cidades, chegando em Salvador, mas precisou
retornar a Fortaleza.
Aluno de uma universidade privada, ele
recebeu a notícia de que sua transferência para a Universidade Federal do Ceará
(UFC) havia sido aceita.
Então, comprou uma passagem de volta para Fortaleza para cuidar da documentação.
“Não estava nos meus planos voltar, fiquei pensando se
continuava ou voltava. Pensei em fazer uma procuração, mas como só eu sabia
onde estavam os meus documentos, decidi vir logo. Minha mãe comprou uma
passagem de volta para mim”, conta. Como seu curso na UFC é de período
integral, ele vai adiar a viagem para o fim do ano, quando estiver de férias.
Ainda assim, Mike passou por Morada Nova, Limoeiro do Norte,
Tabuleiro do Norte, Milagres, Brejo Santo, Penaforte, Salgueiro, Feira de
Santana e Salvador. Tudo isso pegando carona e dormindo em locais
diversos. Em sua barraca,
armada na rua e em postos de gasolina, quando não conseguia hospedagem.
“Fui do lixo ao luxo. Um dia dormi em uma rodoviária, em
Feira de Santana, e no outro dia dormi em uma varanda, em um apartamento de
frente pro mar, em Salvador”, acrescenta.
Mas para conseguir esse resultado, ele teve que se
dedicar bastante. Foram seis meses estudando sobre como viajar de carona e com
pouco dinheiro. Teve que pedir dicas, ouvir opiniões e fez amizades para se
preparar. Mas, para ele, o que mais conta é a preparação psicológica. “Tem que
se preparar bem, porque você vai passar por coisas que não imagina, superar
medos, chegar em pessoas que você não conhece e pedir carona, alimentação”,
alerta.
Às vezes, ao conhecerem a história de Mike Guilherme, as
pessoas se sensibilizam e o ajudam. “As pessoas dizem que eu estou fazendo algo
que elas gostariam de fazer, mas não podem devido ao trabalho, família, etc,
então elas querem fazer parte de alguma forma daquilo e acabam ajudando, com
alimentação e até dinheiro”, detalha.
Na sua primeira aventura, ele conseguiu arrecadar R$ 800, o que
contribuiu com sua alimentação e uma passagem de ônibus de Recife a Fortaleza.
E na sua última viagem, a Salvador, para onde saiu com apenas R$ 90, ele
conseguiu apurar R$ 120. Alguns seguidores de sua fanpage também se solidarizam
e tentam ajudá-lo de alguma forma, seja com hospedagem ou dinheiro. Ele também
se oferece para trabalhar se for necessário.
Sobre medo, ele é taxativo. “Perigo tem em todo lugar.
Corremos perigo até onde moramos. Eu mesmo já fui assaltado na minha rua. Sei
dos perigos que corro, mas tento não me prender a isso”, afirma. A única
situação desagradável pela qual passou foi a de um caminhoneiro que o assediou.
Mas, com educação, Mike esclareceu que queria apenas a carona e que não havia
cabimento para isso e ficou tudo bem.
“Perigo tem em todo lugar. Corremos perigo até onde
moramos. Eu mesmo já fui assaltado na minha rua. Sei dos perigos que corro, mas
tento não me prender a isso”.
Atualmente com 22 anos, ele ainda pretende ir para muitos
destinos. Para não ter que esperar até o fim do ano para ir à Argentina, ele já
se organiza para uma mini trip, onde passará por Recife, João Pessoa e Rio
Grande do Norte. Ele pretende passar três semanas viajando e conhecendo novas
pessoas. “Você fica mais aberto para conhecer o mundo, faz novas amizades,
enxerga melhor o lugar onde mora, de onde veio”, conclui.
Fonte: Tribuna do Ceará