No tempo em que o preço da gasolina assusta os motoristas, três
estudantes cearenses do Instituto Federal do Ceará (IFCE), do campus de
Juazeiro do Norte, a 490 quilômetros de Fortaleza, descobriram uma solução para
isso. Cícero Paulo dos Santos, Maria Jéssica da Silva e Alanna Lucema
desenvolveram no ano passado um projeto inovador de produção de biocombustível.
Com a
orientação dos professores Ricardo da Fonseca e Adolfo Cabral, os alunos
criaram um reator de baixo custo capaz de produzir
biodiesel, glicerina e sabão. O equipamento já foi patenteado e, hoje,
está sendo testado em motores de carros para verificar a utilização do
biocombustível produzido.
Segundo Maria
Jéssica, a ideia de realizar o projeto surgiu há quatro anos, nas olimpíadas de
química da instituição de ensino. “A gente tinha uma bolsa da Petrobras em que
o tema era biocombustível. A partir daí começamos a pesquisar sobre
isso”.
Visando também a reciclagem, os alunos resolveram ir fundo no
projeto. “A gente foi fazer uma pesquisa de campo para desenvolver o
equipamento. Fomos em 500 casas perguntando a quantidade de óleo utilizado por
mês e o que cada pessoa fazia com ele após o uso. Após essa pesquisa,
observamos que as pessoas não descartavam de forma adequada o óleo, e a partir
disso começamos o projeto, que visa, além da economia, a sustentabilidade”,
destacou a estudante.
Produção
Para fabricar
o equipamento, os estudantes adaptaram um corote (espécie de reservatório
d’água de caminhão) e materiais recicláveis, como vassoura, polia, madeira e
garrafas de plástico. Segundo o professor Ricardo, o equipamento custa em torno
de R$ 80 para ser feito e produz cerca de 20 litros de biodiesel, além de não
precisar de energia para funcionar. Para a produção da substância, o
equipamento mais barato encontrado atualmente no mercado custa em torno de R$ 3
mil.
O corote é
colocado de pé, as torneiras de ferro do recipiente são adaptadas para retirar
a glicerina e o sabão, e o reator funciona por atrito, sem a necessidade de
energia elétrica. São produzidos 19
L de biodiesel e 5 L de glicerina por
batelada.
Ainda conforme
o orientador, o projeto se confirma tecnologicamente como o mais barato e
benéfico do mundo. “Fomos na Newland e eles cederam um computador específico
para realizamos testes com o equipamento. Testamos o biocombustível numa Hilux
e conseguimos comprovar que o nosso equipamento diminui 4°C a temperatura,
diminui 3°C de retorno de diesel para o tanque do veículo, e além de tudo isso,
ele também dobra a durabilidade do motor”, ressaltou o professor.
Falta de incentivo
O projeto foi
credenciado para participar da I-SWEEEP, uma importante feira de ciências
voltada para estudantes do ensino médio, que ocorreu em Houston, no Texas. Além
dos EUA, foi aprovado para participar de evento na capital dos Emirados
Árabes Unidos, Abu Dhabi.
Entretanto,
apesar do grande potencial de mercado, o projeto ainda não possui os incentivos
necessários. Segundo Ricardo, é preciso ainda muito investimento para o projeto
se tornar uma realidade. “Falta apoio. Temos alguns incentivos, mas nada que
faça jus ao que o projeto realmente é. Isso é muito triste, mas estamos
buscando cada vez mais esse incentivos”, disse.
A expectativa
do professor é correspondida pelos seus alunos. Para Jéssica, o sonho é ver o
seu projeto sendo executado. “A minha expectativa é que as pessoas olhem pra
ele e que deem o valor que ele merece. Que ele seja realmente executado numa
instituição, numa escola ou num local onde faça bem a sociedade”, completou.
Fonte: Tribuna do Ceará