O deputado
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) perdeu apoio do Palácio do Planalto, do PMDB e do
Centrão (maior bloco parlamentar informal do Congresso) na luta para manter o
mandato. Antes poderoso, o presidente afastado da Câmara está acuado por
antigos aliados, que o pressionam para que renuncie ao cargo na direção da
Casa, e pela Operação Lava Jato. Cunha vê a preservação do mandato como única forma
de não ser preso – ele teme que seus processos sejam remetidos a primeira
instância e fiquem sob cuidados do juiz Sérgio Moro.
Na semana passada, Cunha foi procurado por dois
parlamentares do Centrão, grupo que ajudou a criar. Ambos o aconselharam a renunciar,
pelo bem do governo do presidente em exercício Michel Temer. Cunha se
descontrolou e, aos gritos, disse que jamais tomará essa atitude. A medida
seria vista como sinal de enfraquecimento, e isso poderia tornar inevitável a
cassação em plenário.
Na quinta-feira, dia em que a mulher dele, a jornalista
Cláudia Cruz, virou ré na Lava Jato por decisão de Moro, o deputado mandou
mensagens a integrantes do Centrão dizendo que não pode abrir mão do mandato
porque o juiz federal promoveria um “cerco” a ele e a sua família.
A estratégia para tirar Cunha de cena vem sendo chamada
nos bastidores do governo e do Congresso de “operação mão do gato”, numa dupla
referência ao gesto do felino de bater e recolher o braço imediatamente e ao
ato de agir sorrateiramente. O medo do PMDB e do Planalto é de que Cunha, num
gesto de vingança, possa fazer acusações contra Temer e o partido. No Planalto,
a avaliação é de que Cunha se tornou um fator que só atrapalha o governo.
Criador e criatura
No Centrão, a convicção é de que a “criatura se tornou
maior do que o criador”, conforme a definição de um líder ao falar do grupo e
de Cunha. O objetivo do bloco é manter o poder sobre o comando da Câmara e
fazer o sucessor do presidente afastado da Casa.
Líderes do Centrão avaliam ser possível vencer a votação
sobre o processo que pesa contra Cunha no Conselho de Ética da Câmara, prevista
para amanhã, e aprovar uma pena mais branda, como suspensão por três meses.
Para isso, contam com o voto da deputada Tia Eron (PRB-BA), que não assume
publicamente a defesa da cassação do mandato.
No plenário, porém, o prognóstico é desfavorável ao
peemedebista. Por isso, parte do Centrão vê como alternativa mais viável que o
presidente afastado renuncie ao cargo – o gesto poderia convencer parlamentares
a aceitarem a pena branda.
“Hoje a situação está muito difícil. Chegou a um ponto
muito desgastante. Fica difícil apoiar”, afirma o líder do PR, Aelton Freitas
(MG). Segundo ele, no plenário será muito difícil para os deputados que
sustentam Cunha nos bastidores manter esse apoio, pois a votação será aberta.
Vice-líder do PMDB e membro da “tropa de choque” de
Cunha, o deputado Carlos Marun (MS) admite que haverá votos contrários ao
peemedebista até na bancada, mas avalia ser minoria. “Obviamente não é uma
situação fácil, haja vista a pressão externa.”
No PP, o líder Aguinaldo Ribeiro (PB) apoia o presidente
afastado da Câmara nos bastidores, mas já é pressionado por seus deputados por
sua posição. “No momento em que o processo for à votação em plenário, a maioria
do PP não vota com Cunha. A maioria não está com ele. O pessoal só não está
manifestando isso em respeito ao líder”, disse o deputado Jerônimo Goergen
(PP-RS), da bancada ruralista.
No plenário, bastam 257 votos para a cassação de Cunha
ser aprovada. Hoje, nove partidos se declararam nesse sentido: PT, PC do B,
PDT, Rede, PSOL, DEM, PSDB, PSB e PPS, que somam 218 deputados. O Centrão tem
cerca de 220 parlamentares.
Além de articular a mudança no parecer do Conselho de
Ética que pede sua cassação, Cunha atua na Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) para mudar as regras de votação do relatório no plenário e, com isso,
impedir que a recomendação por uma pena mais branda seja alterada para uma
punição mais dura. O processo por quebra de decoro foi aberto há mais de 220
dias e tem como objeto a acusação de que Cunha mentiu ao afirmar na CPI da
Petrobrás, em 2015, que não possuía contas secretas no exterior. As informações
são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte:
Ceará Agora