Em tempo de guerra, a primeira vítima
é a verdade. Depois da pancadaria no Paraná, duas histórias chamaram a atenção
pelo ineditismo, cada uma especial à sua maneira. A primeira envolveu o soldado
Umberto Scandelari, de Curitiba.
Scandelari
publicou uma foto dele mesmo nas redes sociais com as mãos e o rosto manchados
do que parecia ser sangue, juntamente com a legenda: “Professor, conta outra…”
Viralizou. Um
exame não muito detido na imagem, porém, levantava algumas dúvidas quanto à
consistência dos ferimentos. Parecia canetinha hidrográfica.
Era canetinha
hidrográfica.
A Polícia
Militar paranaense admitiu que o rapaz se pintou. Foi de mártir a pateta em
minutos. Se bobear, ainda tinha uns escalpos no armário.
A outra
crônica envolvia um grupo de policiais que teria resistido
em participar do ataque aos grevistas. De acordo com o Broadcast,
serviço da Agência Estado, que deu o “furo”, eram dezessete que “foram presos
por se recusar a participar do cerco”. A informação seria do Comando da PM.
Mais tarde, os
dezessete haviam se transformado em “pelo menos 50”. Um portal local assinalou
que aquilo até pode ter sido um ato de desobediência, mas era também de
coragem.
No entanto, a
cena incrível não fora testemunhada por ninguém. Qual o nome de pelo menos um
deles? Onde estão esses heróis?
Provavelmente, em lugar nenhum porque
não existem. A PM e a Secretaria de Segurança Pública desmentiram. A
OAB confirmou que nenhum policial foi detido.
É o triunfo do
chamado wishful thinking. Entre aquelas centenas de homens, alguns poucos — nem
tão poucos assim, dependendo da fonte do boato — tomaram uma atitude
sobranceira e resolveram fazer a coisa certa e correr o risco. São homens, não
ratos. Etc etc. Irresistível como ideia.
Tire o
pônei da chuva. O pessoal cumpriu muito bem as ordens. O retrato mais fiel
daquela PM é a do sujeito que se maquiou de cor de rosa para alegar que foi
espancado depois de descer o porrete nos vagabundos — não o dos
bravos insubordinados.
E vamos
lembrar: o Estadão, que soltou a nota, é aquele jornal que publicou que
golfinhos estavam sendo treinados na Ucrânia para desarmar minas carregando
armas de fogo e que Jack Nicholson está com Alzheimer.
Fonte: Diário do Centro do Mundo.