O
governador Cid Gomes lançou um alerta à equipe de campanha de Dilma Rousseff:
Marina Silva, que aparece como fenômeno nas pesquisas, pós-morte de Eduardo
Campos, preocupa mais aos que fazem a campanha de Aécio Neves (PSDB), mas
exigirá dos dilmistas uma “profunda reflexão” porque ela não é fogo de palha.
Pelo contrário, vem mostrando em sinalizações como a defesa do Banco Central
independente, um aceno “ao que há de mais conservador e reacionário”. Para Cid,
Marina precisa apresentar o que ainda não apresentou claramente: um projeto
para o Brasil.
A
entrevista foi concedida ao O POVO na quinta-feira (28), logo após pesquisas
eleitorais anunciarem Marina colada em Dilma no primeiro e, num eventual
segundo turno, derrotando a atual presidente.
O POVO – Marina
assusta Dilma, governador?
Cid Gomes –
Marina, nas pesquisas que saíram aí, surpreende ultrapassando Aécio, portanto
ele deve ser o mais preocupado. Naturalmente, simulações do segundo turno, na
posição em que ela se encontra, nos obrigarão que a gente faça profunda
reflexão. Nós, o povo brasileiro, e de modo geral aqueles que acreditam que
Dilma é a melhor para o Brasil, como eu acho.
OP – Ela é fogo de
palha?
Cid
– Não, não diria isso não. O Brasil, há muito tempo, vem dando sinais claros de
que deseja sair dessa polarização. E a Marina, não sei se é o melhor quadro
para isso, mas essa sinalização já tem sido muito repetitiva nas nossas
eleições. E, enfim, ela aí, agora que está representando essa terceira via. O
que espero é que a gente reflita muito sobre o futuro do Brasil. O que é o
projeto da Marina? Acho que a gente precisa muito saber claramente.
OP – O senhor vê
contradições exageradas na candidata Marina?
Cid
– Eu tenho visto muitos sinais controversos. Ela tem uma história como uma
pessoa progressista, e está acenando com o que há de mais conservador e
reacionário na economia brasileira, que é a independência do Banco Central.
Você vê só, isso é literalmente botar banqueiro para cuidar dos juros. Quem é
mais beneficiado com juros é banqueiro, e se eles vão cuidar dos juros, isso é
péssimo para quem pensa em um Brasil desenvolvido, em crescimento econômico e
geração de oportunidades, que nós precisamos muito ainda.
Se
o Sul e Sudeste brasileiro hoje vivem situação de quase pleno emprego, nós
ainda temos grandes desafios, principalmente no Norte e Nordeste, e isso só se
fará com grandes investimentos, e investimento com juro alto não é compatível,
não combina investimento, portanto geração de emprego, com juro alto, e
banqueiro com independência cuidando do BC é sinal para mim que teremos um
período de profunda recessão, se é de fato essa a proposta da Marina. Acho que
precisa clarear essas questões ainda.
OP – Tem muita
influência dela na campanha do Ceará?
Cid
– Olha, acho que é natural, principalmente com o eleitorado de Fortaleza, que é
mais de classe média, com mais restrições à política. O que acho lamentável,
porque a gente deve ter restrição com a má política, e a gente não deve
transformar nossa inquietude com malversações, com alguns desmandos da
política, votando simplesmente por protesto, sem saber exatamente em quem se
está votando. É ilusão algumas pessoas acharem que não precisam de governo, e,
portanto, vão dar um voto de protesto, uma novidade.
Todo
mundo precisa de governo, economia do Nordeste, do Brasil e do Ceará depende
muito, mas muito mesmo, de uma política nacional voltada primeiro para redução
das desigualdades regionais. É isso que tem feito com que alguns milhões de
cearenses, se incorporem à classe média. Isso faz com que eles consumam, isso
mexe com a vida do empresário para melhor, com a vida do industrial. Se
entramos em clima de recessão, com juro alto para atender a banca, que é o que
está me aparentando essa aliança que a Marina vem fazendo, isso é sinal
horrível pro Brasil. Acho que vamos ter tempo para discutir isso com mais
profundidade.
Fonte: Sobral em Revista.