Um texto escrito pelo antropólogo judeu Marcelo Gruman
se tornou viral na internet. Nele, Gruman fala de suas relações com o judaísmo
e de como a sacralização do genocídio judaico estaria abrindo espaço para que
Israel aniquile o povo palestino. No texto, ele clama aos judeus para que não
aceitem mais a matança em seu nome. Leia abaixo alguns trechos (leia na integra
clicando AQUI):
Há
muita confusão quando se trata de definir o que é judaísmo, ou melhor, o que é
a identidade judaica. A partir da criação do Estado de Israel, a identidade
judaica em qualquer parte do mundo passou a associar-se, geográfica e
simbolicamente, àquele território. A diversidade cultural interna ao judaísmo
foi reduzida a um espaço físico que é possível percorrer em algumas horas. A
submissão a um lugar físico é a subestimação da capacidade humana de produzir
cultura; o mesmo ocorre, analogamente, aos que defendem a relação inexorável de
negros fora do continente africano com este continente, como se a cultura
passasse literalmente pelo sangue. O que, diga-se de passagem, só serve aos
racialistas e, por tabela, racistas de plantão. Prefiro a lateralidade de que
nos fala Clifford.
Ser judeu não é o mesmo que ser israelense, e nem todo
israelense é judeu, a despeito da cidadania de segunda classe exercida por
árabes-israelenses ou por judeus de pele negra discriminados por seus pares
originários da Europa Central, de pele e olhos claros. Daí que o exercício da
identidade judaica não implica, necessariamente, o exercício de defesa de toda
e qualquer posição do Estado de Israel, seja em que campo for.
Muito desta falsa equivalência é culpa dos próprios judeus da
“diáspora”, que se alinham imediatamente aos ditames das políticas interna e
externa israelense, acríticos, crentes de que tudo que parta do Knesset (o
parlamento israelense) é “bom para os judeus”, amém. Muitos judeus diaspóricos
se interessam mais pelo que acontece no Oriente Médio do que no seu cotidiano.
Veja-se, por exemplo, o número ínfimo de cartas de leitores judeus em jornais
de grande circulação, como O Globo, quando o assunto tratado é a corrupção ou
violência endêmica em nosso país, em comparação às indefectíveis cartas de
leitores judeus em defesa das ações militaristas israelenses nos territórios
ocupados. Seria o complexo de gueto falando mais alto?
Não preciso de Israel para ser judeu e não acredito que a
existência no presente e no futuro de nós, judeus, dependa da existência de um
Estado judeu, argumento utilizado por muitos que defendem a defesa militar
israelense por quaisquer meios, que justificam o fim. Não aceito a
justificativa de que o holocausto judaico na Segunda Guerra Mundial é o exemplo
claro de que apenas um lar nacional única e exclusivamente judaico seja capaz
de proteger a etnia da extinção.
A
sacralização do genocídio judaico permite ações que vemos atualmente na
televisão, o esmagamento da população palestina em Gaza, transformada em campo
de concentração, isolada do resto do mundo. Destruição da infraestrutura, de
milhares de casas, a morte de centenas de civis, famílias destroçadas, crianças
torturadas em interrogatórios ilegais conforme descrito por advogados
israelenses. Não, não são a exceção, não são o efeito colateral de uma guerra
suja. São vítimas, sim, de práticas sociais genocidas, que visam, no final do
processo, ao aniquilamento físico do grupo.
Recuso-me a acumpliciar-me com esta agressão. O exército
israelense não me representa, o governo ultranacionalista não me representa. Os
assentados ilegalmente são meus inimigos.
Eu, judeu brasileiro, digo: ACABEM COM A OCUPAÇÃO!!!
Marcelo Gruman é antropólogo.
Fonte: Brasil 247.